Arthur Lira está a um passo de emplacar o sucessor. Na terça-feira, o chefão da Câmara formalizou o lançamento de Hugo Motta. Em 48 horas, seu escolhido já reunia um amplo leque de apoios, do PT de Lula ao PL de Jair Bolsonaro.
Motta tem 35 anos e exerce o quarto mandato. É filiado ao Republicanos, uma das maiores siglas do Centrão. Projetou-se como soldado da tropa de choque de Eduardo Cunha. Agora bate continência para Lira e para o presidente do PP, Ciro Nogueira.
Se não houver uma reviravolta até fevereiro, Motta tende a ser eleito com facilidade. Lira usou a força do cargo para tratorar rivais e emparedar partidos à esquerda e à direita. Ontem o União Brasil rifou Elmar Nascimento. O PSD ainda mantém Antonio Brito, mas não costuma entrar em batalhas perdidas.
As adesões do PL e do PT passaram longe de debates ideológicos. A sigla de Bolsonaro defendeu a anistia para os golpistas. A de Lula pediu boa vontade com as pautas do governo. Num arroubo fisiológico, ainda barganhou a indicação de um petista para o Tribunal de Contas da União.
Motta anotou os pedidos, mas não deu garantias. Sabe que está muito perto da cadeira e considera que só terá dívidas com seus amigos do Centrão.
As disputas pela presidência da Câmara costumavam ser mais agitadas. A crônica de Brasília registra múltiplos casos de traições e surpresas de última hora. Isso parece ter ficado para trás após a invenção do orçamento secreto e o inchaço das emendas parlamentares.
Em 2023, Lira não enfrentou rivais competitivos e foi reeleito com 464 votos num plenário de 513 deputados. Ontem os aliados de Motta brincavam que ele não poderá passar de 463, sob pena de ferir o orgulho do padrinho.
O combustível dessa máquina de fazer presidentes é a farra das emendas, que Lira consolidou e Motta se esforçará para manter e ampliar.
Cavalo branco
Ronaldo Caiado andou se estranhando com Bolsonaro, mas não desistiu de liderar a direita radical em 2026. Ontem, na reunião de governadores com Lula, vociferou contra uma medida civilizatória: a adoção de câmeras nas fardas da PM. “Eu fui eleito. Não vou botar câmera em policial meu de maneira alguma”, esbravejou o governador de Goiás.
Bernardo Mello Franco, jornalista