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Rio Branco precisa de uma liderança à altura de suas necessidades

Vivemos a maior crise dos últimos tempos, intensificada por superposição dos eventos. A pandemia do coronavírus já seria suficiente para quebrar o ambiente de normalidade, no entanto, para piorar o quadro, vemos a coexistência de uma crise sanitária e de uma econômica, que irá se agravar no pós pandemia. No caso do Brasil, adicione-se a crise política.

O surto do COVID19 tem uma dimensão política que, as vezes, no afã de examinar o fenômeno só pelo prisma da saúde, passa ao largo, inclusive, da imprensa e dos especialistas.

O mundo está estarrecido com a letalidade do novo vírus de um modo geral, mas, principalmente, com o que ocorre em dois países em particular: Estados Unidos e Brasil. E o que esses dois países têm de semelhante, que contribuiu com a escalada desenfreada da pandemia? A política encarnada nos seus presidentes, que descredibilizam a ciência, colocam a economia acima da questão sanitária e das vidas humanas, que somam ao desleixo com a gestão pública, a preocupação suprema com a governabilidade e com o poder. Tudo isso constitui um elenco que, acertadamente, está sendo chamado de necropolítica.

A satanização do Estado, da política e dos políticos vem sendo praticada como ideologia desde que o neoliberalismo tornou-se hegemônico, como modelo de acumulação capitalista, na década de 1980. Entretanto, a crise econômica de 2008 intensificou sobremaneira a desconstrução da esfera pública e a tudo ligado a ela de tal forma que, a narrativa dominante, após o baixar da poeira, fez crível a versão de que a crise teria sido culpa dos políticos. Na esteira dessa insensatez brotou outsiders e messias. Os primeiros, expressando a meritocracia e a racionalidade de uma gestão tecnocrática e moderna, avessa ao que foi denominado de velha política. No segundo caso, fez brotar algo bem pior: o neofascismo, de triste memória, ganhou vida em vários países e no caso brasileiro como se fora um destino manifesto estava tatuado no próprio ungido, Messias Bolsonaro. Talvez isso tenha induzido sua horda de descerebrados a chama-lo de “mito”.

O Acre se livrou dos Messias, mas esbarrou na crença na gestão tecnocrática, sem política. Os que a defendem, costumam falar de meritocracia como a redenção da humanidade. Como se no país mais desigual do planeta, onde o berço costuma decidir sucesso e fracasso, houvesse mérito em competir com desiguais. Tanto no governo do Acre como na prefeitura de Rio Branco, os titulares são defensores dessa teoria, mesmo o governador não tendo currículo para tanto, ao ponto de colocarem a defesa de seus CPFs acima das políticas públicas. É só pesquisar o programa executado por cada um, você encontrará um vazio absoluto.

A crença na infalibilidade tecnocrática é próprio das mentes burocráticas. Gestores da contabilidade fiscal costumam se colocar acima do bem e do mal, se acham portadores de uma pureza moral e de meritocracia, razão pela qual consideram que devem se afastar dos políticos, porque eles são vis e incultos. Pelo que está acontecendo no Governo estadual e na prefeitura de Rio Branco já deu para perceber que esse modelo fracassou. Tanto no Estado quanto no Município está faltando liderança e é por conta dessa escassez que ocorre a má gestão, fruto da ausência de coragem, de autoridade e de fazer escolhas, mesmo quando essas não são simpáticas, mas necessárias. Burocratas se deliciam em falar de plano de governo, em época de campanha, uma peça que qualquer publicitário com mediana capacidade, baixa no Google, é capaz de fazer.

Líderes dessem a planície para conversar com o povo a respeito dos problemas e ao ouvir, se compadecem e se indignam com a injustiça social, seu plano de governo é fruto da dura realidade do mundo real. Essa é a diferença, burocratas se preocupam com planilhas e líderes são portadores de causa, para estes, a dor do outro importa.

Estamos vivendo um momento da história política do Acre muito semelhante ao biênio, 1997/1998. Naquela ocasião, tínhamos uma dupla de incapazes no comando do governo do Estado e da prefeitura da capital: Orleir Camelli e Mauri Sérgio. Como diz a psicologia, semelhante atrai semelhante. Com outra roupagem vemos, para ser fiel a Marx, a história se repetir, dessa vez como tragédia em 2020. Dois gestores munidos da credulidade da eficácia da burocracia e o povo não tendo a quem recorrer.

Esse ano haverá eleição, estaremos, assim espero, nos livrando da pandemia. Contudo, infelizmente, ingressando numa das mais rigorosas crises econômicas da história e o Estado nunca foi tão necessário para as pessoas como agora. Aliás, vale dizer, no Acre ele sempre foi o ente mais importante na vida dos cidadãos, devido a anemia do mercado. Rio Branco salta para a incômoda posição de ser o segundo município do Brasil, em ocupação de leitos de UTIs para pessoas com COVID19. Enquanto isso, a prefeita, após participar ao lado do governador de um mini comício, sobre uma obra em que não colocaram um mísero parafuso, anunciou uma nova reforma administrativa. Líderes montam sólidas equipes, burocratas fazem experimentos.

Que o povo perceba essa trinca de desastre, que ocorre nas três esferas de poder, e saiba fazer as escolhas mais apropriadas.


Carioca Nepomuceno ê professor de História na – UFAC e dirigente do PT/Acre.