Conta-se da revolta de Noel Rosa com sua mãe, que carinhosamente instalou uma lâmpada na copa da árvore onde o poeta costumava ficar durante a madrugada. Ele preferia a luz do luar...
Em Rio Branco, onde vivi meus belos dias, há algo de eterno nas lembranças das noites de outrora, quando o romantismo se derramava pelas ruas como o brilho suave das lâmpadas incandescentes, protegidas por luminárias de zinco, penduradas em postes ainda de madeira. Sob essa luz cálida, a cidade era palco de histórias e sonhos, embalada pelo dedilhar de violões e pela brisa que acariciava os rostos.
Era o tempo das serenatas. O tempo em que os enamorados cruzavam a cidade com um violão às costas e o coração na ponta da voz, cantando para suas deusas do amor, que surgiam tímidas nas janelas, encantadas pelo som que cortava o silêncio da noite. Cada acorde era uma promessa, cada verso uma prece. O romantismo não era apenas uma expressão; era uma forma de viver e sentir, onde a poesia se entrelaçava com a melodia, transformando cada esquina em altar de devoção aos sentimentos mais puros.
Hoje, o primeiro viaduto se ergue como um marco da modernidade, mas também como um lembrete de que algo se perdeu. Assim como as antigas luminárias de zinco deram lugar a luzes mais práticas e modernas, o fervor das serenatas e das declarações sob as estrelas parece ter se desvanecido. Não há mais espaço para aquelas noites em que os enamorados davam voz às suas almas apaixonadas, em tributo às musas que iluminavam suas vidas.
Mas, talvez, o romantismo não tenha desaparecido por completo. Ele sobrevive nas memórias daqueles que viveram essas noites, que caminharam sob as luzes amarelas dos postes de madeira e que cantaram à lua e às mulheres que amavam. Enquanto houver quem se lembre dessas serenatas, Rio Branco nunca perderá sua essência de cidade-poema, onde o amor era cantado, celebrado e vivido.
Ainda assim, é impossível lutar contra o tempo. As cidades, como as pessoas, mudam, evoluem, e a modernidade impõe suas marcas. Como disse o poeta: “O novo sempre vem.” Cabe a nós preservar, no coração e na memória, o que o passado tem de mais belo, para que, mesmo sob o concreto e a pressa, o espírito das serenatas continue a ecoar.
Sérvulo Melo da Costa, acreano, egresso do ex-território do Acre.