Há quase dois anos, as oposições temem os retrocessos nos costumes e na democracia. Tudo indica que Bolsonaro vai continuar tentando sem conseguir. Mas parece que ele vai provocar dois retrocessos com apoio da oposição: na estabilidade monetária e na luta contra a corrupção.
Ao longo de quase toda nossa história republicana, as forças conservadoras promoveram orgias fiscais para financiar seus projetos e seus privilégios, financiados com recursos públicos. Deixando a ressaca da inflação, da dívida pública, dos juros altos e suas consequências econômicas e sociais para serem pagas pelo povo. Foram os governos pós-ditadura que trouxeram o compromisso da estabilidade monetária, tratando o valor da moeda como um bem público. No início, com as tentativas fracassadas da moratória e do tabelamento de preços do Sarney e com a tentativa de moratória pelo confisco de poupanças no governo Collor. Depois, com a bem sucedida engenharia fiscal e monetária do Plano Real no governo Itamar, mantido nos governos seguintes de Cardoso e Lula. A responsabilidade fiscal foi relaxada por um curto período, mas retomada outra vez no governo Temer.
A democracia brasileira deu exemplo de compromisso social e competência técnica realizando saída para a inflação das maiores e mais longas no mundo. O resultado foi um período de 20 anos de estabilidade com a retomada da confiança, fator fundamental da economia contemporânea. Para recuperar o equilíbrio perdido entre os anos de 2014 e 2016, foi preciso usar a PEC do Teto, que não seria necessária em um país com políticos e gestores sérios. Mas no Brasil foi e continua sendo necessária, por causa da cultura inflacionária e da irresponsabilidade populistas. Por isto, em vez de lutar por mais recursos propondo eliminar desperdícios e privilégios, a oposição assiste conivente o governo Bolsonaro caminhar para quebrar o teto e levar o Brasil de volta à inflação e todas suas consequências para a economia e para o povo.
Além deste, já está em marcha, com o apoio das oposições, o retrocesso na luta contra a corrupção. No lugar de defender e corrigir erros da Lava Jato, vê-se apoio das oposições às iniciativas do governo Bolsonaro, que para defender aliados provoca o fim da luta contra a corrupção. Pouco a pouco, Bolsonaro percebe que não conseguirá impor os retrocessos que as forças democráticas barraram, e pouco a pouco se aproxima dos retrocessos que também atendem à vontade da oposição.
Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque é um engenheiro mecânico, economista, educador, professor universitário e político brasileiro filiado ao Partido Popular Socialista
Fonte: https://veja.abril.com.br