A avaliação negativa do presidente Jair Bolsonaro, mesmo com a queda recente, beira os 50%. Desde a instituição da reeleição, nenhum presidente em busca do segundo mandato foi tão mal avaliado. Embora Bolsonaro seja aprovado pelos 25% do eleitorado que consideram seu governo ótimo ou bom, isso é sabidamente insuficiente para ele vencer. E fica a cada dia mais claro, faltando pouco mais de cinco meses para o pleito de outubro, que a economia não será uma alavanca capaz de catapultá-lo à vitória.
A inflação é destacada em todas as pesquisas como um dos maiores problemas do Brasil, ao lado de saúde, economia e desemprego. Nenhuma surpresa. O acumulado de 12 meses passou dos 12%. A prévia de abril do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 1,73%, a maior alta para o mês desde 1995 e a maior variação mensal desde fevereiro de 2003. A inflação não está apenas alta, como tem se espalhado para mais produtos e serviços. Mesmo considerando que pode desacelerar nos próximos meses, economistas reviram as previsões deste ano para além de 8%, mais que o dobro da meta de 3,5%.
O desemprego não traz notícias melhores para o governo. É verdade que o índice do último trimestre aponta ligeira queda. Saímos de quase 15% no pico de 2020 para os atuais 11,1%. Mas o FMI coloca o Brasil entre os dez países com maior desemprego no mundo. Comparando a taxa atual à da época da posse de Bolsonaro, pouco mudou. Em dezembro de 2018, havia 12,2 milhões de desempregados. Hoje são quase 12 milhões. Nada sugere uma criação de vagas forte e acelerada nos próximos meses.
A aposta de Bolsonaro é recuperar os eleitores de renda mais baixa graças ao Auxílio Brasil, agora estipulado em no mínimo R$ 400. Só que esse valor está aí desde o início do ano e tem sido insuficiente para resgatar a popularidade dele nos estratos inferiores da pirâmide social. Ele também liberou gastos públicos de forma irresponsável, planeja aumentos para o funcionalismo e tenta se desvincular do aumento dos combustíveis.
Serão tais medidas suficientes para levar sua popularidade ao nível necessário para a reeleição? Difícil acreditar. Ele precisaria ganhar no mínimo dois pontos na avaliação ótimo e bom por mês para chegar a outubro como um candidato competitivo. Desde o início do ano se passaram quatro meses — e ele mal ganhou três pontos.
Para os bolsonaristas radicais, inflação nas alturas, desemprego de dois dígitos, suspeitas de corrupção, negacionismo na pandemia, mentiras sobre as urnas eletrônicas, nada é grave o suficiente para apagar o fervor. O eleitor sem ideologia, aquele que acabará decidindo a eleição, é mais sensível ao que se passa na economia. O conjunto da obra pode ser suficiente para levá-lo ao segundo turno, mas é difícil crer que garanta a vitória nas urnas. O próprio Bolsonaro não parece acreditar muito nessa hipótese. Não há maior evidência disso que seus repetidos ataques mentirosos ao sistema eleitoral, criando um pretexto para justificar uma virada de mesa.
Fonte: https://oglobo.globo.com