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Por que o capitalismo contemporâneo não consegue mais criar trabalho? 

Porque o capitalismo segue existindo, mas não consegue mais criar trabalho? Por que passou a propagandear apenas reformas e a uma longínqua hipótese de empregos?

Assim, o regime segue apenas mantendo controle sobre a maioria a quem continua esmagando e excluindo. O capitalismo agora impõe que o próprio trabalhador gere o seu trabalho (sujeito-empresarial) que passa a se oferecer ao mercado na expectativa de ser explorado para sobreviver.

Embora, a pandemia nos traga, de forma aflita, um conjunto de indagações, essa pergunta é anterior às questões do presente, onde as crises se acumulam como camadas sobrepostas.

Antes, o capital empurrava a expansão colonial pelo mundo. Hoje, é a oferta de crédito que transformou a dívida em motor da exploração. É para quitá-la que se trabalha feito louco e se admite a exploração, na esperança que sobre algo para sobreviver. Hoje, no mundo, o total de dívidas (públicas e privadas) já é quase superior ao dobro dos PIBs das nações e funciona como motor da exploração.

O feudalismo e a escravidão nos levaram aos conflitos e às guerras. O Estado de Bem-Estar-Social (Welfare State) trouxe após a 2ª GM um alívio para aqueles do andar de baixo, enquanto aqueles do andar de cima seguiam ganhando. Porém, aos poucos o neoliberalismo voltou recuperar espaços e ampliar a concentração que cresceu enormemente no final do século passado.

Apesar da racionalidade e da tal modernidade, o capitalismo, sob a hegemonia financeira, passou a explorar mais e cada vez mais. Na economia formal sobre cada vez menos e ainda mais intensamente dos demais na informalidade. 

O capitalismo deixou de cobrar a mais-valia apenas de forma direta, com menores salários e através da informalidade. Paulatinamente, foi criando outros mecanismos de captura, como das rendas derivadas do trabalho (juros, alugueis, marcas, dividendos, auditorias e serviços jurídicos, etc.) como anti-valor ou capitalização para vampirizar a renda do trabalho.

Junto, também ampliou o uso do dinheiro como mercadoria indireta em meio à profusão do lançamento de papéis, títulos, debêntures, mercado de futuro, etc. num processo  que ampliou o domínio financeiro sugando cada vez mais da economia real. O resultado isso é a maior espoliação que chega junto do maior contingente de sobrantes (“invisíveis”). Saskia Sassen vai chamar esse processo de “uma civilização excludente” que promove “expulsões” e brutalidade. [2]

A isso hoje chamamos de hegemonia financeira no capitalismo contemporâneo, que passou a ser realizado mais sobre a acumulação de dinheiro como mercadoria, do que sobre a captura da renda direta sobre o trabalho remunerado, que se reduz a alguns poucos locais escolhidos, conforme o potencial de espoliação. (Sim, sem esquecer que emprego difere de trabalho)

O capitalismo além de gerar cada vez menos emprego, impõe que o próprio trabalhador gere o seu trabalho e o ofereça ao mercado para ser explorado, onde a maior parte da renda acaba vampirizada e subindo para o andar superior das altas finanças.

Os labirintos do capitalismo parece mostrar uma nova fase, não mais expansiva, mas uma etapa e de um capital com uma fase concêntrica, numa trajetória helicoidal, que mistura a exploração da mais-valia da produção material, com a captura conjunta do valor fictício, tudo em tempos mais curtos e maiores intensidade, deixando pelo caminho os sobrantes, tornando-os invisíveis.

Isso tudo não pode ser e nunca foi natural e sim fruto da produção social no território onde a vida se desenrola. É ainda interessante observar que esse processo traz no seu âmago, de forma embutida, a ideologia da individualidade e da competitividade. O mundo do cada um por si, conforme a competência e os méritos próprios que desprezam os pontos de partidas dos sujeitos em seus espaços só valorizando a chegada.

Quem reage a essa lógica é logo chamado de populista ou retrógrado. Ou ambos. É nesse percurso histórico, entre ciclos e crises que à ideia do marxismo cultural, ao terraplanismo como rechaço à ciência e às ideias da razão, da universalidade, da ciência e da consciência do processo histórico e dos interesses presentes na sociedade. Mas é essa relações de poder é que precisam ser alteradas, porque outro mundo é possível!


Roberto Moraes, Engenheiro e professor titular “sênior” do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ)

Fonte: https://www.brasil247.com/