A polarização é uma coisa esquisita. Ela acirra os ânimos e radicaliza as opiniões dos dois grupos em oposição, mas também os irmana. É bem isso o que está acontecendo na disputa eleitoral pela Prefeitura de São Paulo, como mostrou a pesquisa do Datafolha.
A corrida paulistana é uma das que serão “nacionalizadas”, com Lula e Bolsonaro se envolvendo diretamente para apoiar seus respectivos candidatos, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Isso é sinônimo de jogo duro, potencialmente sangrento. Mas interessa a ambos, pelo menos nas fases iniciais da campanha, assegurar que o adversário mantenha sua posição de força eleitoral. Enquanto as duas candidaturas se retroalimentarem, fica exíguo o espaço para o crescimento de uma terceira, que poderia romper a lógica de polarização.
Boulos, que saíra à frente, retém 30% das preferências dos eleitores no principal cenário; Nunes, que deve estar sorrindo de orelha a orelha, cresceu e bateu nos 29% (e ainda aparece com uma rejeição menor que a do adversário); já a deputada federal Tabata Amaral (PSB), que busca cacifar-se como terceira via, não está conseguindo ganhar tração, ficando com 8% ou 9%.
Se esse quadro se mantiver, como é provável, e Boulos e Nunes se enfrentarem num segundo turno, terão de fazer inflexões mais profundas. Os eleitores mais ideológicos não terão muita alternativa que não votar contra o grupo que abominam, de modo que os dois postulantes passarão a disputar ativamente os votos dos mais moderados. Aí, Lula e Bolsonaro podem deixar de ser bônus para converter-se em ônus. Bolsonaro, por definição, tende a assustar pessoas razoáveis; já Lula, que na prática abandonou a ideia de frente ampla que ajudou a elegê-lo, vem perdendo popularidade de acordo com várias pesquisas.
Essas ambivalências da polarização são uma das razões por que é tão difícil superá-la.
Hélio Schwartsman, jornalista