A Polícia Federal indiciou Jair Bolsonaro por três crimes no rolo das joias. O capitão foi acusado de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Pelo volume de provas, é questão de tempo até que seja denunciado e enviado ao banco dos réus.
Os investigadores concluíram que o ex-presidente se apropriou indevidamente de bens da União. Depois de surrupiar o patrimônio público, ele resolveu transformar as pedras em dinheiro vivo. Para isso, mobilizou civis e militares num esquema de desvio, contrabando e ocultação de valores.
A lista de indiciados inclui gente graúda do governo passado, como um ex-secretário da Receita e um ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social. A PF também complicou dois oficiais-generais da reserva: o almirante Bento Albuquerque e o general Mauro César Lourena Cid.
A dupla protagonizou lances vexatórios. O almirante deu carteirada na alfândega, numa tentativa de liberar pedras apreendidas. O general se fotografou por engano ao negociar presentes oficiais como muamba. Para azar dele e do ex-presidente, as peças eram apenas folheadas a ouro. Não tinham valor comercial.
A investigação mina um dos pilares da propaganda bolsonarista: o discurso de que o capitão pode ter muitos defeitos, mas é honesto. O mito da probidade não combina com a pecha de ladrão de joias.
O ex-presidente é inocente até que se prove o contrário, mas terá que lidar com uma acusação de fácil entendimento popular. Segundo a PF, ele usou o cargo para afanar relógios, colares e abotoaduras em ouro e diamante. Ontem seu advogado não quis comentar as conclusões da polícia.
O caso ressurge num momento em que Bolsonaro voltava a exibir força política. O capitão iniciou o ano nas cordas. Chegou a se esconder numa embaixada com medo de ser preso. Nos últimos meses, retomou as viagens para pedir votos nas eleições municipais. Agora terá que dividir o tempo entre o palanque e a defesa no STF.
A única boa notícia para o clã foi a decisão da PF de não indiciar Michelle Bolsonaro. Com o marido fora das urnas, a ex-primeira-dama se preserva como alternativa eleitoral. Seu nome foi usado para desembaraçar joias, mas ela poderá se dizer uma inocente útil.
Bernardo Mello Franco, jornalista
Fonte: https://oglobo.globo.com/