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Os contadores de suas histórias

É fácil pensar que nosso Acre tenha histórias surpreendentemente fortes, dignas de livros dedicados a elas.

A cada nova matéria ou entrevista que realizava no Acre S/A, a cada novo Perfil do Empreendedor’, eu me tornava diferente. As pessoas iam vivendo suas vidas, mas sempre que suas trajetórias eram interrogadas, começava uma sucessão de emoções incontidas cheias de “foi muito difícil”, acompanhados de “mas graças a Deus”.

Mas dentre todas as informações apreendidas ao longo desse trajeto de 12 anos prospectando histórias e empreendimentos, o que mais me chamou atenção foi o fato de que só prosperou mesmo foi quem focou, mirou, se concentrou e se jogou física e emocionalmente no sonho, no propósito. Claro que entre essas histórias todas, há aqueles que tiveram sorte e aquela mítica real de estar no lugar certo, na hora certa.

Também há aqueles que não acreditavam no próprio sonho, mas…tentaram assim mesmo. E ainda há aqueles que desistiram e, subitamente, algo milagroso aconteceu.

Não saber o que houve antes de nós é permanecer criança. Não buscar aprender com pequenas situações vividas por um e outro é perder uma parte substancial do seu crescimento e trajetória na terra. O fim depende do início. E todos têm uma linha da vida – analogicamente comparada a uma estrada – que é nosso início, meio e enfim…

Pois bem, nessas minhas andanças nas quais entrevistei empresários acreanos, “acredotados” ou de tantos outros lugares, fui me permitindo aprender com cada um e aprendizado exige atenção. Eu ouvia, mas sempre fazia perguntas, claro!

Um dia convidei seu Osvaldo Dias, empresário que carrega uma história bonita que inclui uma longa jornada de trabalho em família no antigo Expresso Araçatuba. Homem simples e apaixonado pelo Acre, soltou: “Mirla, tudo que tenho vou te dar agora!”.

Meu Pai, pensei eu, o que será que vai acontecer nessa entrevista?

Osvaldo deu um sorriso paterno e ao mesmo tempo agradecido e emendou: “Minha história! Ela na verdade é tudo que eu tenho. Mirla, o caráter de um homem é seu destino, ele se faz na caminhada”.

Nossaaaaaaaa!!! No meio da testa! Que palavra! Quanta sabedoria apreendida no provável apanhar dos dias e dias de trabalho, decepções e alegrias. Até lembrei uma frase que ouvi na novela: “a alegria é maravilhosa, mas ela não te ensina nada, o que ensina mesmo é a dor”. E ali estava eu, continuando meu aprendizado, tendo na história do outro, mais uma marca na minha própria.

Também conheci pequenos sonhadores como dona Sirley. Nunca vou esquecê-la. Cozinha que é uma delícia e faz crochê como ninguém, sempre observando suas revistas que a ensinam novas técnicas, nuances de cores, aplicações de pontos e entre-pontos, coisas desse tipo. Nunca me interessei, apesar de ter tido uma avó que costurou para os filhos e netos boa parte da vida e uma mãe que enveredou pelos caminhos do crochê de barbante. Meu foco sempre foi estar com pessoas. Muita concentração para mim era perda de tempo, não vou mentir. Mas bater papo sempre foi meu forte.

Bem, continuando com dona Sirley, e sendo boa de papo como julgo ser, perguntei antes da entrevista: Dona Sirley, como mesmo que escreve seu nome? Ela sem graça olhou para mim e disse: “Não sei!”.

Eu quase dei uma risada, me pareceu uma brincadeira daquelas tipo “quebra-gelo”.

Como assim dona Sirley? Quero saber se é com ‘s’ ou com ‘c’? Mais uma vez ela me disse: “Não sei mesmo!”.

A ficha demorou a cair. Ela calmamente e com aquela leve timidez de quem conta um segredo, solta: “Eu não sei ler, não. Mas tudo na vida eu sei fazer!”, continuou em tom sereno de justificativa.

Pelo amor… Meu coração quase parou. Não havia tido uma experiência desse tipo ainda. Ela tinha um monte de revistinha, como fazia então? E ela foi me contando que sempre olha as figuras das revistas e aprende. Quando precisa ler chama um dos filhos, mas na vida aprendeu o que mais precisava e com o artesanato que produzia escrevia a história da sua própria vida. Assim, com toda a simplicidade que se pode ver numa mulher, fui marcada mais uma vez.

Nascemos ouvindo histórias e histórias. Umas ensinam, outras nem tanto. Vão desde aquelas de família, às infantis como as que eu amava, Negrinho do Pastoreio, Bela Adormecida, e tantas outras. Muitas vezes não lembramos sequer uma citação do livro que estamos lendo, mas sempre recordamos das histórias.

O mestre Jesus, por exemplo, ensinava através de parábolas e tanto cultos como incultos, entendiam a mesma mensagem, ninguém era excluído do retorno emocional que aquela narrativa poderia gerar e gerava.

Na caminhada da nossa linha da vida começamos, nós, a contar histórias: as que vivemos todos os dias, as que inventamos e as dos outros também. Mas quem acredito ser um verdadeiro bom contador de histórias ou um simples “colecionador de informações da vida” é aquela pessoa que faz de cada evento da vida um motivo para procurar o caminho. E é quando estamos sem direção que aprendemos a pedir ajuda.

Sem surpresas, é exatamente quem fez o mesmo caminho que pode te dizer como chegar. Pode até demorar mais para um do que para outro, mas uma coisa eu aprendi com tantas histórias: o melhor caminho conduz à verdade e a verdade conduz à vida. Continuo descobrindo, mas em um outro universo que não o empresarial, mas o público. E olha que já ouvi boas histórias.

Quer saber o que mais me emociona? Não são os instantes de fabulosas novidades, mas a eternidade da simples descoberta. Isso sim é viver e ter histórias para contar.


Porta-voz do Governo do Estado do Acre