O Brasil chegou ao ponto em que é impossível a qualquer um fechar os olhos para nosso fracasso econômico. Há mais de 10 anos estamos regredindo em quase todos os indicadores de bem-estar e prosperidade, num período em que praticamente todos os países de alguma relevância econômica cresceram.
Agora mesmo nossa economia acaba de ingressar naquilo que os economistas chamam de recessão técnica, quando o crescimento do PIB é negativo por dois trimestres seguidos, após um breve ensaio de recuperação.
Se estivéssemos em tempos normais, o tema dominante da agenda política só poderia ser crescimento econômico. Os efeitos do baixo crescimento e do alto desemprego já não estão segregados nas periferias longínquas. A pobreza crescente está expondo seus tristes traços nos centros das grandes cidades, até em São Paulo.
Percorrer o centro da nossa cidade mais rica chega a ser um espetáculo de horror. Mas, onde quer que se vá em todo o país, a pobreza e a miséria estão expostas cruamente diante dos olhos de todos.
É uma ilusão acreditar que a índole resignada dos brasileiros pobres não deixará que se turve a paz e a tranquilidade dos ricos e dos remediados. Em algum momento, o crescimento da pobreza e a ausência clara de oportunidades para quem está de fora podem produzir uma explosão social.
Apesar de tudo isto, o tema do crescimento econômico e do combate à pobreza pelo aumento dos empregos e das atividades produtivas nem sequer é mencionado.
Quando um espírito mais livre ousa tocar na questão, é imediatamente rotulado de anacrônico ou herege, pois esta não é absolutamente uma tarefa do Estado. A reação é de tal forma contundente e avassaladora que os mais sensíveis preferem retroceder e voltar ao silêncio. O papel dos governos, segundo este consenso, é manter um rígido conservadorismo fiscal e neutralizar a ação direta do Estado.
Quando o Brasil tinha uma sociedade muito mais simples e uma economia bem menor, o debate político era muito mais substantivo do que hoje, girando em torno de questões centrais, como o desenvolvimento, as políticas distributivas e até visões antagônicas de mundo.
Mesmo depois da redemocratização, tivemos em 1994, 1998 e 2002 confrontos de ideias substantivas. Daí em diante eleições foram apenas uma competição vazia entre personalidades e o silêncio sobre o destino estratégico do nosso país e de nossa sociedade.
Apesar do estado em que se encontra o Brasil, não faltam candidatos à Presidência da República. Até agora sugerem diferenças nas aparências, mas nenhum deles dá o menor sinal de ter algum projeto de governo transformador, à altura dos recursos do país e das mudanças do século XXI.
O que os une é a submissão aos consensos dos economistas do mercado financeiro e suas adjacências.
Na nossa tradição política, candidatos à Presidência mostravam força reunindo em torno de si figuras políticas de prestígio, cujas biografias antecipavam a orientação do futuro governo e facilitavam a identificação dos eleitores.
Agora a história é outra. Os candidatos têm primeiro que escolher o seu economista, que passa a falar em seu nome, porque economia é conversa para adultos, não para políticos.
Não pode ser qualquer economista. Se for da universidade, não serve. Tem de ser do mercado, de confiança dos investidores, para garantir que as políticas do governo não saiam dos trilhos.
Por estes, entenda-se: rigor fiscal, superávits orçamentários, políticas monetárias severas, ampla desregulamentação financeira e neutralização da liderança do Estado em políticas de crescimento. Quem não seguir este protocolo será inscrito numa lista negra, que será amplamente divulgada pela imprensa.
Excetuadas essas questões “especializadas” de economia e de crescimento, o candidato tem ampla liberdade para prometer e, depois, fazer qualquer coisa que quiser. Se alguma coisa der errado, não tem importância. Os capitais, ao contrário das pessoas, podem fugir para qualquer lugar, onde serão muito bem recebidos.
Roberto Brant é ex-ministro da Previdência Social e escreve no Capital Político
Fonte: https://www.metropoles.com