Nas Sagradas Escrituras os dez mandamentos são entregues ao povo como caminho de libertação. Os mandamentos
são tidos como “A Lei de Deus”. Eles completam o processo de libertação da escravidão no Egito! A lei de Deus orienta a liberdade. Os mandamentos aparecem de forma explícita no livro do Êxodo (Ex 20, 1-17) e no livro do Deuteronômio (Dt 5, 6-21).
Este breve texto apresentará o tema da “Adoração a Deus” como consequência do Amor a Deus – centro da Lei divina e caminho de libertação para o ser humano.
Amor a Deus não se dissocia do amor ao próximo. O culto a Deus e a discórdia humana jamais serão realidades consequentes.
A Lei de Deus é um Dom para o seu povo
Os gestos libertadores de Jesus pareciam ir de encontro com as leis divinas em Israel. Entretanto, o próprio Jesus declarava que veio dar cumprimento à lei e não negá-la. Assim, lei de Deus e graça de Deus não devem ser compreendidas como realidades que se sobrepõem.
“Anularemos então a lei por causa da fé? De modo algum! Pelo contrário, confirmamos a lei” (Rm 3, 31). Este versículo da carta aos Romanos situa o objetivo da lei divina. A Lei divina não se impõe contra o homem. Ela não existe para gerar culpabilidade, legalismos estéreos, ou moralismo vazio.
A Lei divina é dom de Deus. Sua função é de assistência. Assistir a humanidade em sua caminhada histórica. Para guiar, para assegurar a prática do bem. A finalidade da lei divina é que cada ser humano possa manifestar o máximo da bondade inscrita em seu interior pelo próprio Deus, sem ceder às paixões. A lei é consagrada pela forma de usá-la. No caso da lei divina, um uso cheio de graça e de verdade.
O amor a Deus não se dissocia do respeito ao ser humano
O temor do Senhor é uma dimensão da fé. Temor manifesta respeito e submissão, confiança na sabedoria divina, no poder de Deus, e em seu amor. O temor do Senhor não é sinônimo de terror, mas de profundo respeito com Deus. Ela é um dom do Espírito Santo.
O primeiro livro de Samuel nos apresenta como o “Temor do Senhor” habitava Davi, o grande Rei de Israel.
O autor sagrado narra uma campanha do rei Saul contra Davi. Por inveja, o rei buscava matar o mais eficiente de seus generais. Neste contexto, Davi tem a oportunidade de eliminar o rei. Os saldados de Davi viam ali uma promessa de Deus. Mas o episódio bíblico termina com estas palavras “(...) quem poderia estender a mão contra o ungido do senhor e ficar impune” (1 Sm 26, 9). Seu amor a Deus o impede de agir para o mal de outro.
Davi estava em conflito com Saul. Este queria matá-lo. Ele foge para preservar sua vida, mas não entra na engrenagem do ódio e da vingança. O temor de Deus o domina. Ele não temia as armas de Saul. Ele temia a Deus. Sabe que o Senhor dará a cada um segundo a sua fidelidade. O orgulho e a misericórdia não podem coabitar.
Para os cristãos uma verdade se impõe: todos são amados na mesma intensidade infinita por Deus. Disto vem a dignidade, a unção, que Deus confere a cada ser humano.
Não é um julgamento humano que confere dignidade à uma pessoa e que a torna menos digna do amor que Deus nos pede de manifestá-la. Origem, raça, classe social, nem suas faltas é a medida do amor que cada um recebeu de Deus.
“Que coisa é o ser humano, para dele te lembrares, o filho do homem, para o visitares?” (Sl 8, 5).
Diante da manifestação da graça divina a criatura não ousaria mesmo se voltar a este grande Deus, se Ele mesmo não tivesse a bondade de a ordenar, por uma graça que a eleva, de O amar.
Nesse sentido, diz o Catecismo da Igreja Católica: “Adoração do Deus único liberta o homem de se fechar em si mesmo, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo.”
*Padre Manoel J. M. Costa é Reitor da Catedral Nossa Senhora de Nazaré