Nascido na Ásia, o lendário jogo de xadrez tem origem controversa, mas uma das mais comentadas lendas assegura que ele surgiu na Índia no século VI e se espalhou rapidamente para a China, Rússia, Pérsia e Europa, bem no início da Idade Média.
Os historiadores costumam dizer que nada se assemelha mais à política do que o jogo de xadrez, pois nas peças destes estão representados o povo e o soldado (peão), o governo (rei e rainha), a religião (bispos), e o poderio militar (cavalos e torres), que andam de diferentes formas no tabuleiro (campo de batalha) para a persecução da vitória que se alcança imobilizando o rei adversário.
Tanto o jogo de xadrez quanto o da política exigem dos contendedores inteligência, resistência e paciência dentro de um timing (tempo) previamente estabelecido, ganhando o jogador que conseguir ter a previsibilidade que lhe permita fazer com antecedência o maior número de boas jogadas possíveis consecutivas, encurralando seguidas vezes o seu oponente.
Dadas essas explicações e lembrando os velhos tempos de razoável jogador de xadrez, pude responder, enfim, a um velho amigo cantor e compositor ansioso para ter uma explicação para o fato do presidente Jair Bolsonaro, depois de tanto mentir, brigar, ofender, ameaçar e, literalmente, desgovernar o país quase todos os dias, durante os últimos 17 meses, ainda não renunciou ou foi deposto do cargo.
Falei, então, para o artista. “Tenha calma, meu amigo, pois estamos ganhando o jogo do xadrez porque nosso oponente é um jogador confuso, desorientado, perturbado, despreparado, mentiroso, mau caráter e autoritário, que já confessou, em um vídeo-entrevista rodado milhões de vezes nas redes sociais, que sua única especialidade é matar, matar e matar”.
E disse mais para o cantor e compositor. Com descrédito se agigantando nacionalmente a cada mês, até entre seus próprios eleitores, e já sem crédito algum de confiança nos demais lugares do planeta, nosso oponente está botando os pés pelas mãos no jogo da política enxadrista, só se preocupando em atacar e tirar direitos conquistados a duras penas pelos trabalhadores brasileiros.
Além de ampliar, no paralelo, a fome e a miséria por todo o território nacional, a olhos vistos diariamente, nos sinais de trânsito e nas portas de supermercados, de mercearias, de padarias e até de farmácias, onde se encontra apenas a ponta do iceberg do seu total descompromisso em combater a pandemia, que já ceifou até agora mais de 32 mil vidas humanas. Um contingente de pessoas que, por coincidência, ele previu, em outro vídeo rodado na internet, que iria morrer caso fosse estabelecido na guerra civil que planejava, à época, para o Brasil.
Voltando ao xadrez, também disse ao meu interlocutor que o oponente do povo brasileiro, com migalhas cada vez menores de fascistas de verde e amarelo que vão berrar como gado todos os domingos no curral do Palácio do Planalto, já está a mais de meio caminho andado do fim, do que já se chama nas ruas, de seu desgoverno.
Isso porque, intransigente, ameaçador e violento, o líder oponente da democracia brasileira já perdeu, ao longo do tabuleiro, quase todos seus 16 peões, os dois bispos, um dos dois cavalos e uma das duas torres, somando-se ainda a rainha improdutiva chamada, ao longo da grave crise econômica, social e ambiental de 17 meses do Brasil, de “Micheque”, apelido ganho por ter sido acusada de receber cheques provenientes de rachadinhas compartilhadas pelos milicianos com a mais famosa familícia carioca.
Desmascarado e blefando diariamente com ameaças de golpe militar para fechar o Congresso e o STJ, além da volta do AI-5, confiando apenas nos generais gagás e incompetentes que só fazem mamar na sua gestão indigesta, Bolsonaro se vê, como o próprio rei do xadrez, cada vez mais isolado, imprensado num canto do tabuleiro, começando a levar “cheque” para onde quer que se mexa.
“Cheques” que tendem a virar “mate” (final do jogo) tão logo haja uma brecha sanitária na atual pandemia para que outras centenas de milhares de antifascistas, inclusive os paneleiros, saiam de suas casas e apartamentos e se somem aos milhares de democratas, que começaram em São Paulo e no Rio de Janeiro, no último domingo, a botar pra correr das ruas e avenidas as cada vez menores boiadas fascistas do presidente miliciano.
O Brasil já se cobre de vários manifestos de diferentes setores políticos e econômicos da sociedade brasileira, inclusive o denominado “BASTA”, que já tem quase mil assinaturas só de juristas pedindo o impeachment do presidente. No resumo, a “surra” que Bolsonaro deve levar nas ruas e no tabuleiro de xadrez da política nacional nos próximos meses tende a ser a maior da história do país.
(*) Jornalista
Foto: Gabriela Bilo - Jornal O Estadão