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O que foi a Nova Política 

Maquiavel, em O Príncipe, disse que o vencedor não deve humilhar o vencido, porque a humilhação leva ao ódio, e o ódio leva à vingança. Sun Tzu, em A Arte da Guerra, disse que quando um exército cerca o inimigo deve deixar uma alternativa de fuga, não para que o inimigo possa fugir, mas para que ele não lute com a coragem de um leão ferido. Ambas afirmações equivalentes, repletas de sabedoria para a ação política.

O governo de Bolsonaro foi o governo do vencido contra o vencedor, do Baixo Clero, contra o Exército que o deixou, e a Classe Política que o menosprezou. A retaliação da Nova Política contra a Velha Política.

Bolsonaro teve sua origem no Exército Brasileiro, tendo saído em 1983 após a possibilidade de controversa corte marcial que não ocorreu, por supostos atos disciplinares. Na política, participou do Baixo Clero, grupo então sem voz dentro do Congresso que trocava seu apoio ao grupo parlamentar dirigente pela retribuição de supostos benefícios e regalias. Foi eleito pelo descontentamento de parte da população então contra o status quo, e pela horda dos sem voz de setores de classes médias iliteratas, base social histórica dos movimentos nazistas e fascistas que ocorreram e ocorrem no mundo.

O governo Bolsonaro exigiu a submissão do Exército que antes tacitamente o deixou, e o detrimento da classe política que antes o desconsiderou, dentro de um projeto genuinamente personalista, sem ideologia, do poder pelo poder. São 27 alterações no primeiro escalão em dois anos e meio de governo, quase um Ministro por cada mês, o que indica falta de estratégia administrativa e de políticas sociais e econômicas definidas.

Em Pesquisas Nacionais da Sensus sobre o Exército Brasileiro, realizadas com a população e a corporação, a admiração e respeito pela instituição, assim como a relativa equivalência de pensamento entre a população e o corpo da instituição, foi significativamente identificada, parte que são da sociedade brasileira. O Exército Brasileiro é positivamente avaliado por 59% da população e 86% de seus membros, considerado como importante para o país por 93% da população e por 96% da corporação. Ser submetido a decisões voluntaristas de um governante fere o ethos da instituição.

Embora com rompantes temerários de quebra da ordem institucional, Bolsonaro tem hoje que se submeter aos desígnios da política e das instituições nacionais, diante do enfraquecimento de sua plataforma política, erros na condução do Covid, e entrega pífia na economia.

Difícil a situação eleitoral de Bolsonaro, com somente ¼ de apoio da população e mais de 50% de rejeição no eleitorado, indicadores não suficientes para a sua reeleição.


Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

Fonte: https://www.metropoles.com