Em que fase estamos mesmo? Afinal, a tão falada curva de contaminação do Covid-19 cresceu ou diminuiu? Faltam-nos dados concretos, digo, reais para além dos oficiais, pois ainda nos faltam testes disponíveis para medir com precisão. A única certeza que temos é de que não estamos mais aguentando esperar para “voltar ao normal”. Precisamos sair do castigo que o vírus nos impôs. Quanto irá nos custar para além do que já estamos pagando? Perguntas difíceis de responder.
Viver é agir. É fazer. Vida é movimento e transformação. Cada um sabe onde o calo aperta e vimos desde o início aqueles que não puderam parar colocando suas vidas em risco para atender não só ao apelo da saúde como também suprir necessidades básicas. Mas e agora? Foram bem mais de 15 dias trancados em casa (quem o pôde fazer). Um embate entre nova realidade x retorno a tudo que já fazia parte da minha vida, tudo que já havia construído. Mais uma vez, um convite/intimação para a reflexão e o autoconhecimento. O balanço ainda em meio aos efeitos inacabados do novo coronavírus que continua agindo sem limites.
E aqui está você, nesse momento, decidindo quase que numa cartada de sorte quais serão esses novos caminhos. Você que neste período perdeu o emprego ou mesmo viveu uma separação, que acabou de ver seu filho nascer ou precisou de uma internação para atender a uma cirurgia. Você que perdeu um parente muito amado ou que conseguiu ver melhor a dor de quem está vivendo essa perda. Não dá para dizer que qualquer um de nós é o mesmo de antes. Muitos atravessamentos, muitas desconstruções.
Então, vamos nós mais uma vez nos reinventar. Novos territórios. Isso faz lembrar aquele mundo que existia (e falo de algo concreto) quando você estava na barriga de sua mãe. Aquele mundo inteiro e você adaptado ao sistema de desenvolvimento simbiótico. Nem tudo eram flores. Até ali, você viveu angústias e medos, transformações, fome, dor, alegria. Mas era um mundo conhecido e acolhedor até que... você nasce. Outro território, outro tudo e nenhuma certeza de “por onde começar”. Você certamente não se lembra, mas não foi fácil. Temos a sorte de não carregar essa memória de modo consciente mas dá para imaginar. Surge então, pelo menos, dois elementos essenciais que nos ajudam com a nova adaptação: Empatia e encantamento.
Com a empatia conseguimos traduzir e atender as necessidades dessa nova criatura a ponto de nos servir não somente do conhecimento do manual de como tratar um bebê, mas principalmente com a leitura do que ele de fato necessita. Com o encantamento criamos conexões mágicas que nos fazem suportar os maiores desafios em qualquer sentido que se apresente. Primeiro lembre e haja com a certeza de que você não está só e que um exercício de empatia precisa se fazer constantemente. E, de imediato, não abra mão do encanto. Estamos com medo do novo, estamos inseguros e fragilizados. O que precisamos fazer para reatar as conexões de afetos que nos fazem aquecer a alma? Por onde anda suas paixões, seus encantos? Posso ficar elencando um rol infinito, mas não é de uma ideia que você precisa e, sim, de se reconectar consigo mesmo. Quando puder se ouvir, saberá a qual encanto te diz respeito. O tempo urge, não estamos podendo ficar parados. Até porque uma montanha russa se fez e ainda estamos em seus trilhos aguardando a próxima curva.
*Psicólogo (Carlos Arruza é registrado no Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP 05/33478) com o nome de Carlos Francisco Pinto Silva)