Hoje, com a Polícia Federal e os órgãos de fiscalização lhe mordendo as canelas, Bolsonaro já pode ser tranquilamente chamado de ladrão. Os escândalos de seu governo urram exigindo processos e punições. Alguns deles: o cheque de Michelle, o esquema dos tratores, a farra dos caminhões de lixo, o contrabando de madeira, os R$ 15 milhões em leite condensado, os R$ 21 milhões no cartão corporativo, os R$ 26 milhões em kits de informática para escolas sem água, o MEC dos pastores-lobistas pagos em barras de ouro, a compra de vacinas 1.000% mais caras do que cobrado pelo fabricante, os bilhões do orçamento secreto. Além da apropriação das joias sauditas e a passagem delas nos cobres como se fossem dele. Nunca um ladrãozinho tão barato custou tanto ao país.
Não era assim no começo do mandato. Suspeitas abundavam, mas, mesmo com as rachadinhas, dele e dos filhos, e o gigantesco patrimônio imobiliário com salários de deputado, era difícil enquadrar Bolsonaro como corrupto. As provas fugiam pelo ralo. O que desde o primeiro dia me pareceu óbvio foi o seu papel como corruptor —e esta coluna foi das primeiras a chamá-lo assim.
Bolsonaro conseguiu supercorromper os já nada virginais Executivo, Legislativo e Judiciário. Corrompeu também os serviços de inteligência, investigação e segurança, como a Abin, a PF, a PRF, as PMs, e de controle financeiro, como o Coaf. E a PGR, cujo titular, Augusto Aras, o elegeu como “o maior símbolo de combate à corrupção em 520 anos de Brasil”. Mas Aras disse isso em 2020 —hoje, sob nova administração, deve ter mudado de ideia.
Nada é mais grave, no entanto, do que a corrupção por Bolsonaro das Forças Armadas, com 2.500 empregos, cargos, sinecuras, uísque, picanha, Viagra, próteses penianas.
Pior: ao corromper militares para suas ideias, Bolsonaro fez das Forças Armadas uma tropa de pazuellos, como nunca em 523 anos de Brasil.
Ruy Castro, jornalista e escritor