Por dois meses, um militar lotado no Estado-Maior do Exército soprou as brasas do golpismo que ardiam no gabinete de Jair Bolsonaro. Após a derrota nas urnas, o coronel Jean Lawand Junior pedia que o presidente decretasse uma intervenção das Forças Armadas para melar a eleição. “Pelo amor de Deus, o homem tem que dar a ordem”, escreveu.
A expectativa de golpe não teria sobrevivido por tanto tempo se não houvesse simpatia pela ideia em altos círculos militares. Ainda que a agitação na reserva fosse mais aparente, sobram evidências de movimentações concretas na ativa e em postos importantes da hierarquia.
As mensagens de Lawand foram encontradas no celular de Mauro Cid, o inseparável ajudante de ordens de Bolsonaro. Segundo a revista Veja, o coronel da ativa cobrava providências e dizia que, ainda que a cúpula do Exército não apoiasse o golpe, o restante da corporação cumpriria ordens para uma intervenção.
O militar chegou a prometer a Bolsonaro a ajuda de um general. Lawand disse a Cid que o então subcomandante de Operações Terrestres do Exército seguiria a determinação do presidente para uma ruptura.
Outros militares da ativa transmitiam seus sonhos ao Planalto, de acordo com a PF. O tenente-coronel Marcelino Haddad enviou a Cid três documentos que foram usados para redigir um plano que anularia a eleição, afastaria ministros do TSE e decretaria uma intervenção.
Cid baixava a bola, mas não cortava os golpistas. Lamentava e dizia que o presidente não poderia ordenar uma intervenção porque não confiava no Alto Comando do Exército. Em seu último pronunciamento no cargo, Bolsonaro confirmaria a tentativa e a frustração: “Para você conseguir alguma coisa, mesmo dentro das quatro linhas, precisa ter apoio”.
As provas do envolvimento de militares da ativa não criam só um constrangimento para os comandantes. Elas mostram que as Forças serão obrigadas a conviver por um bom tempo com o fantasma do golpe bolsonarista —e dar alguma resposta.
Bruno Boghossian, jornalista