Depois de 14 anos, o Brasil voltou a participar da reunião do Grupo dos Sete (G-7), desta vez no Japão, com as principais nações industrializadas do mundo.
Criado em 1975, o G-7 tem por objetivo reunir os principais chefes de Estado e de governo para discutir e propor soluções para os principais problemas do planeta.
Até que ponto esse modelo funciona pode ser objeto de infindáveis discussões, porque muito do que ficou decidido ao longo destes anos não chegou a ser colocado em prática. No entanto, é mais provável que o mundo ganhou mais do que perdeu com esses encontros.
A participação do presidente Lula no evento passou a ser vista como o retorno do Brasil ao multilateralismo nas relações internacionais.
Esta reunião de cúpula aconteceu num momento de fortes convulsões na geopolítica global: guerra na Ucrânia; crise diplomática entre Estados Unidos, Rússia e China; ameaças nucleares do Irã; e a escalada das tensões entre China e Taiwan.
As discussões sobre possíveis saídas para o conflito parecem ter ficado contaminadas pelo aumento das sanções contra a Rússia.
As ameaças à saúde mundial, num quadro de pós-pandemia e de alastramento da fome, da pobreza e dos fluxos migratórios, são temas que preocupam as lideranças do mundo, até mesmo pelo seu inevitável impacto sobre as instituições democráticas. “O mundo percebeu que precisa desenvolver arcabouço mais amplo para questões sanitárias porque possui poucas ferramentas para lidar contra pandemias”, avalia Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper.
No campo macroeconômico, ainda como desdobramento da pandemia, há os problemas causados pelo alastramento da inflação e pelo alto endividamento das nações em desenvolvimento, em parte efeito dos despejos de recursos destinados a conter a covid-19.
E tem a encrenca das mudanças climáticas. Depois de ter passado quatro anos em que deixou passar a boiada na área ambiental, o Brasil parece ter voltado a ter condições de contribuir com mais soluções do que com criação de problemas. Lula reforçou cobranças para que os países líderes cumpram a promessa de doar US$ 100 bilhões para proteção ambiental. O tempo dirá se terá sucesso.
Na questão da guerra, Lula tende a assumir posições carregadas de alguma ingenuidade. Se a invasão pela força de um país por outro é condenável, não se pode pretender que o país invadido aceite entregar de mão beijada território a troco de uma paz incerta. “O presidente Lula parece não ter entendido que, depois da invasão da Ucrânia, os conflitos já não se resolvem apenas com conversas diplomáticas e com acordos comerciais. A defesa e a segurança se tornaram prioridades. Este é um mundo em guerra, e em guerra é preciso ter um lado. Não dá para ficar sobre o muro e querer abocanhar resultados financeiros”, avisa o economista e doutor em Relações Internacionais, Igor Lucena.
Celso Ming, cientista social
Fonte: https://www.estadao.com.br/