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O destino de Sérgio Moro

Nicolas Fouquet, ministro das Finanças francês, esperava ser nomeado primeiro-ministro por Luís XIV em 1661

, quando o cargo ficou vago. Temendo estar perdendo prestígio, o ministro organizou uma festa em homenagem ao “Rei Sol” que espantou a Europa pela beleza.

O ministro passeou ao lado do monarca pelos jardins impressionantes de seu suntuoso Castelo de Vaux-le-Vicomte. Logo em seguida, assistiram a uma peça de Molière escrita especialmente para a ocasião. Poucas vezes o mundo tinha visto festa tão grandiosa.

Fouquet foi dormir acreditando ter recuperado seu prestígio. No dia seguinte, por ordem do rei, foi preso e acusado de conspiração e roubo. Considerado demasiadamente poderoso e ambicioso, viveu os últimos anos de sua vida numa solitária.

Regra básica da política: nunca ofusque o brilho do rei.

Como pode ter no governo um ministro tão poderoso e ambicioso com popularidade superior à do próprio presidente? Era óbvio que essa conta, cedo ou tarde, iria desandar.

Bolsonaro, que assumiu o governo afirmando que não seria candidato à reeleição, jamais desceu do palanque.

Com o ex-juiz procurando delimitar espaços e se diferenciar o tempo todo, não restou alternativa ao presidente. Jair não economiza poder e artilharia. Atira com força em qualquer um que possa representar ameaça ao seu projeto de poder.

A gota d’água foi a ligação do ministro para Dias Toffoli, sem consultar o presidente, reclamando da decisão sobre o Coaf que beneficiou Flávio Bolsonaro.

Indignado, o capitão abriu a metralhadora: “troca-troca com Ricardo Salles”, “ele não estava comigo na campanha”, “vou intervir na PF”, “o pacote anticrime do ministro não é prioridade” e todo tipo de humilhação.

Moro se viu na pele daquele recruta indesejado, apanhando de mão aberta na cara de um Capitão Nascimento enfurecido gritando: “Pede pra sair!” Mas, por que ele não sai?

O ex-juiz teve suas arbitrariedades expostas pela Vaza Jato. Coleciona uma série de inimigos poderosos. Saindo da Esplanada, perde o foro. Além do que já apanha da esquerda, viraria alvo da rede bolsonarista. Não é fácil sobreviver na planície com leões famintos no seu encalço.

Doria, na ejaculação precoce de tornar-se rei, correu para estender-lhe a mão. Não faria sentido sair da capital do poder para ficar pendurado num castelo menor.

Quais seriam as outras hipóteses? Candidato a prefeito em alguma capital? Sair do jogo nacional significa encolher, mesmo ganhando.

Encurralado, a saída possível parece ser engolir as humilhações e apostar num futuro eleitoral no longo prazo. Com as revelações do Intercept, o STF pode ter ficado um sonho mais distante.

Candidato a presidente num eventual naufrágio do capitão, vice de Bolsonaro na chapa da reeleição, ou mesmo disputar o Senado são alternativas possíveis. Mas, em qualquer hipótese, o caminho até 2022 será longo e penoso.

Sem alternativa de curto prazo, restou ao maior expoente da “República de Curitiba” engolir o orgulho, suportar a solitária e rezar para que Luís XIV não decida decapitá-lo.

Jornalista

Fonte: https://congressoemfoco.uol.com.br