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O capitão do capitão

O capitão do capitão

Jair Bolsonaro levou seu cercadinho móvel para Ribeirão Preto. O ex-presidente aproveitou a maior feira agrícola do país para fazer campanha. Inelegível, encheu a bola de Tarcísio de Freitas, que sonha em concorrer ao Planalto em 2026.

“Se eu não voltar um dia, fiquem tranquilos. Plantamos sementes ao longo dos nossos quatro anos”, discursou o capitão. Atrás de um púlpito com a logomarca do governo paulista, ele descreveu Tarcísio como “uma pessoa fantástica”. “Quase que inigualável”, empolgou-se.

As sementes de Bolsonaro já germinaram. Produziram uma direita extremista, que perdeu o pudor de atacar as vacinas, investir contra a urna eletrônica e repetir slogans de origem fascista.

“Hoje ninguém tem vergonha de dizer Deus, pátria, família”, orgulhou-se Tarcísio na segunda-feira. Aplaudido pela claque do agro, ele provocou o MST e descreveu o padrinho como um estadista que “garantiu a segurança do campo”.

Na campanha de 2022, Tarcísio foi orientado a se vender como um político moderado. Eleito, deixou o disfarce para trás. Loteou o governo entre militares e entregou o comando das polícias para a bancada da bala. Seu secretário de Segurança ostenta um currículo notável. Conseguiu ser afastado da Rota por excesso de truculência.

Em março, o Conselho de Direitos Humanos da ONU recebeu denúncia formal contra as matanças da polícia paulista. Tarcísio respondeu no melhor estilo Bolsonaro: “O pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça ou no raio que o parta, que eu não tô nem aí”.

Enquanto a dupla fazia comício, dados oficiais mostraram os efeitos dessa retórica. As mortes causadas pela polícia paulista dispararam no primeiro trimestre de 2024. O número saltou de 75 para 179 — um crescimento de 138% na comparação com o mesmo período do ano passado.

O ouvidor da PM, Cláudio Aparecido da Silva, classificou a estatística como “alarmante”. “É o momento de as autoridades e a própria sociedade refletirem se é mesmo essa polícia que a gente deseja”, alertou.

A semente foi lançada por Tarcísio, que aposta no bangue-bangue para se firmar como o capitão do capitão.

Bernardo Mello Franco, jornalista

Fonte: https://oglobo.globo.com/