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O Brasil refém dos fanáticos

O Brasil refém dos fanáticos

Existe uma frase, atribuída ao grande escritor Ariano Suassuna, mas que na verdade é do português Antonio Prates, que diz o seguinte: “O fanatismo e a inteligência nunca moram na mesma casa”. É a mais pura verdade. A materialização dessa máxima pode ser facilmente constatada nos Brasil dos dias atuais. Com fanáticos políticos da direita e da esquerda, adorando seus líderes cegamente, vivemos um impasse. A radicalização vai aumentando à medida que as eleições se aproximam. O mais preocupante é que, vencendo Lula ou Bolsonaro, o Brasil não terá paz, continuaremos divididos.

De um lado bolsonaristas convictos que não conseguem enxergar o óbvio a respeito do presidente. Não admitem a corrução no governo, entendem que ‘rachadinha’ é normal, negam o negacionismo durante a pandemia, minimizam a volta da inflação, o descaso com o meio-ambiente e, pasmem, defendem até o alinhamento com o Centrão, esquecendo-se das promessas de campanha do “mito” que dizia combater a velha política.

Os devotos também não lembram, ou fingem não entender, que graças a Bolsonaro e ao acordo firmado com Dias Toffoli, Gilmar Mendes e o Congresso, para livrar a cara do filho 01, senador Flávio Bolsonaro, Lula, Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e tantos outros condenados pela Lava Jato estão livres, leves e soltos, podendo, inclusive, disputarem as eleições deste ano. Bolsonaro não destruiu apenas a operação Lava Jato, acabou com o seu legado.

Sem argumentos para apresentar aos eleitores, especialmente aos que não mais acreditaram nas suas boas intenções, torce pela polarização com o ex-presidente Lula, apostando na força do antipetismo para se manter no poder. É aí que o feitiço pode se virar contra o feiticeiro. Bolsonaro foi eleito por uma conjunção de fatores que, junto com a disseminação das Fake News nas redes sociais, conseguiu convencer parte do eleitorado de que era a melhor opção para um país afogado na lama da corrupção.

Cometeu estelionato eleitoral e agora tenta emplacar o discurso do bem contra o mal, acirrando ainda mais a polarização contra o PT. Segue fazendo e falando bobagens, transformadas pela máquina de criar narrativas em bandeiras de luta – a maioria sem pé nem cabeça – para manter os fanáticos em intensa atividade nas redes sociais.

Esse script não é diferente dentro do PT de Lula, que também anda falando algumas bobagens de arrepiar os cabelos dos aliados mais sensatos. Os marqueteiros de plantão tentam justificar aos fanáticos que a aliança com Geraldo Alkmin, um tucano que rivalizou com o partido durante quase 30 anos, é a única saída para o Brasil. Sendo assim,  tudo o que foi dito e feito deve ser esquecido em nome de um bem maior. Essa verdade vale para o Alckmin também.

Assim como os bolsonaristas, os fanáticos lulistas, acreditam em toda e qualquer narrativa criada para rebater as críticas ao ex-presidente. Continuam bradando aos quatro cantos que Lula foi vítima de uma grande armação articulada pelo ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro – embora sua condenação tenha sido confirmada posteriormente por outras duas instancias. Dizem que a anulação das sentenças pelo ministro Edson Fachin é a prova da sua inocência, mas não explicam  os reais motivos que permitiram a criação dessa firula jurídica para justificar a decisão, que vem ajudando as defesas de outros condenados.

Lula e o PT nunca fizeram qualquer autocritica, sequer pediram de perdão ao povo brasileiro pelos bilhões desviados nos escândalos do Mensalão e do Petrolão. Já estão se unindo a Geddel, na Bahia, flagrado não com uma mala, mas várias malas e caixas cheias de dinheiro ocupando um apartamento em Salvador durante as investigações da Lava Jato.

Não fossem os devotos dos dois lados, que somam cerca de 50% do eleitorado, nenhum dos dois teria a menor chance de se eleger, principalmente porque a maioria dos eleitores  não aceita nem Lula nem Bolsonaro no poder mais uma vez. Como não são barulhentos e não encontraram até agora um nome que possa uni-los, seguem reféns dos fanáticos.

Mas essa situação não se resume aos malucos adoradores de político. A crise é bem mais grave e complexa. Passa, principalmente, pela ausência total de lideranças políticas no país, inclusive dentro do próprio PT que não tem um nome para substituir Lula. Passa por uma classe política mais preocupada em manter o status quo do que em resolver o reais problemas do Brasil.

É preciso ser muito ingênuo, a ponto de acreditar no Coelhinho da Páscoa, para achar que qualquer dos dois candidatos que vença a eleição mude alguma coisa na vida da turma do Centrão. Alguém duvida de que Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira, Arthur Lira, entre outros farão aliança com o PT numa eventual vitória de Lula?

Isso inclui partidos como o MDB, PSDB e União Brasil, entre outros. Não por acaso, os nomes postos como alternativas são traídos à luz do dia, ou dos holofotes das TVs, sem a menor cerimônia. A pré-candidata do MDB, Simone Tebet, tem passado por esse calvário. Teve que engolir seu companheiro de partido no Ceará, Eunício Oliveira, promover um jantar em Brasília em torno de Lula para discutir não só a sucessão presidencial quanto a sucessão estadual.

Para o grupo que hoje apoia o governo Bolsonaro, nada mudará qualquer que seja o resultado das eleições. Os político que compõem o chamado Centrão, podem até trocar um ministério por outro, mas a influência junto ao próximo presidente será a mesma. Não dá pra esquecer que todos estiveram ao lado do PT – do Mensalão ao Petrolão – até a véspera do impeachment da Dilma, quando ainda negociavam cargos e liberação de verbas. Na hora, apoiaram Michel Temer sem qualquer constrangimento. Hoje, estão ao lado do governo que se elegeu prometendo acabar não só com o toma-lá-dá-cá, mas afastar essa turma dos cargos e cofres públicos.

Isso ocorre pelo sistema político no qual vivemos. Tanto assim, que todas as tentativas de reforma política discutidas pelo Congresso se transformaram em reforma eleitoral. Qualquer governo terá, necessariamente, que negociar com gente como Ciro Nogueira, Arthur Lira, Marcos Pereira, entre outros.

As lideranças não estão preocupadas com os rumos do país, mas em manter seus currais eleitorais bem regados com recursos públicos, seja um governo de direita ou de esquerda. São verbas de emendas ou extras que conseguem para abastecer os prefeitos e cabos eleitorais que garantem a reeleição eterna deles ou dos seus herdeiros políticos.

Essa mistura de ignorância com falta de caráter torna o país refém de eleitores fanáticos e de uma classe política aproveitadora, sem qualquer compromisso com a população. Muito triste quando vemos que não há luz no fim do túnel. Afinal, qualquer dos dois que vencer a eleição não unirá o país e, portanto, não terá condições de reconstruí-lo.

Iva Velloso, jornalista

Fonte: https://osdivergentes.com.br