Em apenas sete meses de governo, Bolsonaro conseguiu bater um recorde nas pesquisas de opinião
: é o pior avaliado entre todos os presidentes no início de seus primeiros mandatos desde a redemocratização do país.
O capital eleitoral do capitão vem se reduzindo principalmente nos grandes centros urbanos. Segundo pesquisa Datafolha, 39% dos brasileiros dizem que o atual governo não fez nada de positivo. Muitos dos descontentes de hoje, que votaram em Bolsonaro no ano passado, têm motivos diferentes para desaprovar o presidente.
Numa entrevista ao jornal Valor Econômico, a antropóloga Isabela Kalil, especialista em movimentos conservadores no Brasil, identificou em pesquisas qualitativas que existem dois grupos distintos de descontentes. O primeiro é formado por jovens que se decepcionaram com os cortes de verbas na educação. Muitos deles até participaram das manifestações de protestos convocadas pelas escolas e universidades públicas em todo o país.
O segundo grupo é composto por homens entre 40 e 45 anos que cobram do governo as promessas de rompimento institucional e efetivação da pauta da extrema-direita: fechamento do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e a liberação do porte de armas. Esses eleitores são contra as alianças políticas e o diálogo com a oposição.
Não é à toa que Bolsonaro vive às turras com o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia. Mas os ataques, até o momento, não conseguiram criar uma nuvem de fumaça para evitar o desgaste relacionado aos acordos políticos nas casas legislativas. A compra de votos por meio de emendas parlamentares foi amplamente noticiado pela imprensa.
Outro fato que ganhou as manchetes foi a promessa, feita pelo líder do governo no Senado Fernando Bezzera (MDB de Pernambuco e que foi ministro de Dillma), de que o presidente teria maioria suficiente para aprovar o filho hamburgueiro Flavio Bolsonaro para o cargo de embaixador em Washington.
Em contrapartida, é interessante perceber que, ao contrário do que muitos esperavam, a esquerda tem avançado mesmo estando fora do poder. Prova disso é o crescimento do número de filiados ao PT. As arbitrariedades cometidas no julgamento e prisão do ex-presidente Lula fizeram crescer a taxa de filiações do partido. Nos últimos meses o PT passou de 84,5 filiações por dia para 201,8. A legenda tem hoje mais de 2,1 milhões de filiados.
O Brasil nunca esteve tão dividido entre direita e esquerda como hoje. É muito difícil prever o que vai acontecer nas eleições do ano que vem. A queda de Bolsonaro deve continuar, não apenas pela incompetência generalizada, mas pela estagnação econômica. Isso não quer dizer que teremos uma derrota da extrema-direita. Ela continua viva através do partido “Novo” e do PSDB de João Doria. A difícil missão da esquerda é formar uma Frente Ampla incluindo o centro que não foi devastado pela Lava Jato. Fernando Haddad, Guilherme Boulos e Flávio Dino criaram um grupo para fazer oposição ao governo. É um bom começo, mas, por enquanto, são três mosqueteiros à procura de um centro pra chamar de seu.
É jornalista, escritor