Neste fim de semana, os bolsominions de Araçatuba, no interior de São Paulo, conseguiram se superar.
Comemoraram a proclamação da República cantando o Hino à Bandeira e batendo continência para uma réplica da Estátua da Liberdade transformada, indevidamente, em marketing de uma grande loja de departamentos. Um fake da escultura neoclássica projetada pelo artista francês Fréderic Bartholdi e dada pelo governo da França ao povo norte-americano.
A figura feminina que ocupa a ilha da Liberdade no porto de Nova Iorque é a de Libertas, deusa romana. A estátua original é um ícone à liberdade e um símbolo de boas-vindas aos imigrantes que chegam aos Estados Unidos. Significados desprezados pelo próprio presidente Bolsonaro, que defende a ditadura militar, a tortura e as políticas restritivas de Trump aos imigrantes. Entre elas, a construção do muro na fronteira com o México, separando a América do Norte da América Latina.
Ao contrário da doutrina fascista que propunha o nacionalismo e o expansionismo, o "patriotismo made USA" de Bolsonaro se caracteriza pela submissão de seu país aos interesses do imperialismo norte-americano. Não à toa, o presidente bateu continência para o ex-assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, para a bandeira dos Estados Unidos e de quebra, disse "I love you" para Trump, envergonhando a nação e constrangendo a diplomacia brasileira. Bolsonaro é a antítese do político direitista tão sonhado pela elite "erudita" formada pelas pílulas de sabedoria do historiador Leandro Karnal.
O “mito” representa a classe média pouca afeita à cultura e ao pensamento mais sofisticado. Alguns, inclusive, pararam na Idade Média e defendem que a Terra é plana. Outros ressuscitaram a Guerra Fria e acreditam piamente numa hipotética ameaça comunista vinda de Cuba e da Venezuela. E outros ainda sonham em reeditar o beija-mão real, um grupo autodenominado conservador monarquista, que defende a entrega do Brasil ao sucessor da família real, o bisneto da princesa Isabel e do conde D'Eu e tataraneto de D. Pedro II, Luiz de Orleans e Bragança.
No Brasil do empoderamento da imbecilidade tudo é possível. Até voltarmos a ser uma colônia de Portugal, país governado hoje pelos socialistas. A ala dos barões famintos e do bloco dos napoleões retintos estão de volta. Mas, como diz a música de Chico Buarque, "o estandarte do sanatório-geral vai passar."
*Jornalista e escritor
Fonte: https://www.brasil247.com