..::data e hora::.. 00:00:00

Artigos

Nunca a imagem do Brasil no mundo esteve tão destruída

Entre a eleição de Jair Bolsonaro, no domingo 28 de outubro do ano passado, e sua posse, no primeiro dia deste malfadado 2019

, passei mais de 40 dias fora do Brasil. Graças à coincidência de uma série de convites enfileirados (e também por precaução: ninguém sabia o que fariam as milícias bolsonaristas) perambulei pelo Chile, Argentina, Uruguai e México. E tanto de amigos como de desconhecidos ouvi reiteradamente a mesma pergunta: ‘Como é que o seu país elegeu alguém como Bolsonaro?’.

Do primeiro de janeiro para cá, tornei a perambular – outra vez graças a convites, mas acima de tudo para respirar. De novo Argentina, três vezes, e uma vez Portugal

A mesma pergunta de antes veio agora acompanhada de outra, mais contundente: ‘Ninguém reage, ninguém vai fazer nada?’.

Tratei de explicar que desde 2016 um golpe de Estado perfeito foi dado em meu país. Uma conjunção de interesses reuniu a grande mídia hegemônica, o empresariado, os donos do capital, o que de pior existe na política, além de a uma farsa judiciária cometida debaixo do silêncio cúmplice e poltrão dos tribunais superiores. E, claro, tudo isso tutelado por setores das forças armadas.

O objetivo, muito mais do que depor Dilma Rousseff, foi impedir Lula de disputar a eleição. Preparado o cenário, desfechado o golpe, uma opinião pública anestesiada, amnésica e manipulada embarcou na canoa do capitão tresloucado. E pronto.

Cada vez que dei minha visão do panorama, ouvi de volta: ‘Não parecia que uma parcela tão grande fosse tão ignorante e tão reacionária’. Várias vezes ouvi menção à corrupção. E quando isso aconteceu, veio outra pergunta: em qualquer país do mundo pune-se os corruptos e os corruptores, mas não as empresas. Não se destrói a economia. Por que no Brasil aconteceu o que aconteceu?

Quanto ao tamanho do reacionarismo e da ignorância no meio do eleitorado, apenas ponderei que os radicais estampados no direitismo fundamentalista do clã Bolsonaro são menos do que parecem, e que o número de arrependidos – mas nem por isso menos responsáveis pelo que está acontecendo – aumentava de maneira acentuada.

Escritor e jornalista

Fonte: https://www.brasil247.com