Com 43 anos recém-completados, o Partido dos Trabalhadores é um dos mais velhos da República. Superam-no apenas o MDB, criado em 1965; o PTB, que nada mais tem a ver com aquele fundado por Getúlio Vargas, em 1945; e o minúsculo PCdoB, nascido da costela do PCB, em 1962.
Com este último, o PT compartilha o fato não ter surgido do interior do sistema político, por iniciativa do estado, nem tampouco de acordos entre políticos profissionais. Nasceu dos setores populares mobilizados –sindicatos, movimentos sociais, intelectuais–, nos estertores da ditadura de 1964, contra a qual se erguiam.
Restabelecida a democracia, era de supor que a esquerda ganharia força político-eleitoral em um país de extensa pobreza e agudas desigualdades. Só não estava dado de antemão quem a representaria. A decisão ocorreu nas eleições de 1989, quando Lula, liderança plasmada nas greves operárias de 1979-80 e fundador de um partido inovador, pois ancorado em movimentos populares, passou ao segundo turno vencendo Leonel Brizola, que encarnava um populismo de esquerda de raiz getulista.
A partir de então, o PT percorreu a típica rota das agremiações social-democratas europeias, adaptada ao lugar e momento histórico. Fincou-se na arena eleitoral, conquistou governos municipais, ampliou a representação parlamentar, enquanto a sua estrutura ganhava robustez. Ao moderar o discurso antissistema promoveu-se a polo articulador das esquerdas nas disputas presidenciais.
Nesse processo, foi se achegando às nada republicanas formas de financiamento da vida partidária e das campanhas eleitorais, praticadas pelos partidos brasileiros de todas as colorações e que, mais tarde, explodiriam nos escândalos do mensalão e do petrolão. Essa trajetória e os dilemas do partido estão contados no excelente livro “PT, uma história” do colega colunista desta Folha, Celso Rocha de Barros.
No governo ao longo de 14 anos, o PT deu impulso inédito à agenda social, expandindo e aprofundando políticas já estabelecidas na saúde, na educação e na transferência de renda. Além de criar outras voltadas à redução das desigualdades, como cotas raciais ou ProUni. Na gestão da economia, Lula temperou com altas doses de pragmatismo o programa do partido, cujos princípios, quando postos à prova, nunca deram bons resultados, como se viu na gestão de Dilma Rousseff.
Agora, de volta ao poder, demonstrando espantosa resiliência, o PT tem a chance de rever na prática os seus erros e dar vida ao reformismo social possível, em tempos de penúria e de ataques ao regime de liberdades.
Maria Hermínia Tavares, professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap