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Na cabecinha

Torcer pela morte de um sequestrador é como apoiar o combate à pedofilia: simples, fácil e natural

. Portanto, me pareceu óbvia e correta a ação da polícia carioca ao matar um louco armado que, na ponte Rio-Niterói, ameaçava fuzilar e incendiar mais de vinte reféns.

Há nessa narrativa, contudo, um entorno cada vez mais preocupante, sobretudo depois da cena patética (mais uma) protagonizada pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, comemorando a execução do sequestrador como uma criança que acaba de ganhar o seu primeiro PlayStation.

Witzel pensa e age como psicopata, com orgulho e sem constrangimento. O faz com respaldo significativo dos eleitores fluminenses, a reboque da sociedade carioca, resultado de uma chocante união de interesses entre uma classe média burra e apavorada, na zona sul, e um lumpesinato imbecilizado pelas igrejas evangélicas, na zona norte, nos morros e nos subúrbios.

Witzel repete, como um louco motivado, uma cantilena assassina que se resume a autorizar policiais a, sempre que possível, mirar e atirar “na cabecinha” de bandidos identificados por ele. Mas apenas em comunidades pobres e deflagradas habitadas, quase totalmente, por homens, mulheres e crianças negras. Nessa toada, já foram mais de 800 homicídios cometidos por policiais, apenas nos primeiros seis meses de 2019.

A morte do sequestrador, repito, uma ação policial correta e necessária, foi rapidamente capturada pelo aparato de propaganda fascista do governador. Não à toa, ele mesmo fez questão de aparecer diante do mundo agarrado aos policiais do Bope, como uma macaca de auditório descontrolada, dando pulos de alegria pela morte de um homem.

Sinal de que, daquela cabecinha, muito de ruim ainda há de vir.

Jornalista

Fonte: https://www.brasil247.com