Bolsonaro deve ter pensado que ele e Moro sairiam do Maracanã consagrados pelos aplausos,
carregados nos braços do povo, e tudo estaria resolvido, não se falaria mais na crise da Vaza Jato.
Como o capitão vive em outro mundo, fora da realidade, chegou todo sorridente, acompanhado do seu séquito de ministros, filhos e seguranças, certo de que estava abafando.
Foi aplaudido por autoridades e convidados especiais da tribuna de honra, tirou selfies e foi se sentar ao lado do ministro.
Para quem viu a chegada dos torcedores ao Maracanã, vestidos de verde amarelo, a maioria de óculos escuros, carregando bandeirinhas do Brasil, como se estivessem indo para uma passeata na avenida Paulista ou na avenida Atlântica, parecia mesmo que tudo estava favorável para a dupla de embusteiros que assola o país.
Mas bastou o telão do estádio mostrar imagens dos dois na tribuna de honra, para as vaias começarem.
Nem jogando em casa, para uma platéia aparentemente amiga, porém, Bolsonaro & Moro escaparam de ouvir o que não queriam.
Pela cara séria deles, dava a impressão de que estavam assistindo a uma parada militar.
Torcedor de pouca prática, o presidente quase foi ao chão na comemoração do primeiro gol e se segurou em Moro para não cair.
Alguém o aconselhou a não dar a planejada volta olímpica no intervalo, mas quando o jogo acabou, com a vitória do Brasil, ele não teve dúvidas: correu para o gramado para posar com a taça ao lado dos jogadores. Levou outra sonora vaia, mas já não se viu Moro a seu lado.
No caminho, tentou abraçar o técnico Tite, como fez com Felipão na conquista do Palmeiras, no ano passado, mas levou um chega pra lá do técnico e ficou com o braço parado no ar.
Sorriu aquele sorriso forçado ao ser chamado de “Mito” por alguns jogadores e se abancou entre eles para a foto, mas o Fantástico não mostrou esta histórica imagem.
O superministro Paulo Guedes ficou furioso e saiu chutando o balde ao ser barrado pelos seguranças, um vexame que o ex-juiz não passou, porque se escafedeu antes quando ouviu as vaias.
Rejeitado por um em cada três brasileiros, segundo o último Datafolha divulgado hoje, Bolsonaro deve ter achado que as vaias foram para os jogadores peruanos.
Na segunda-feira, em Brasília, já ninguém falava da performance bolsonariana no Maracanã. Deu chabu.
Em compensação, Moro roubou as atenções gerais, ao anunciar que vai tirar uma semana de licença, de 15 a 19 de julho, sem explicar os motivos, no auge dos vazamentos das maracutaias da Lava Jato.
O despacho de Bolsonaro autorizando a licença de Moro foi publicada no Diário Oficial de hoje.
Segundo um assessor do ministro, “a licença já estava planejada desde que o ministro assumiu”, informa o UOL.
Como assim? Tudo que cerca Moro parece estranho e nebuloso aos simples mortais. Por não ter ainda direito a férias, depois de apenas seis meses de serviço, o ministro tirou uma licença não remunerada.
Assim como não deu satisfações sobre sua repentina viagem aos Estados Unidos, após os primeiros vazamentos, sem divulgar a agenda, agora também não se sabe se ele ficará no país ou para onde ele pretende ir.
As últimas revelações do The Intercept Brasil, em parceria com a Folha, mostraram o interesse de Moro na situação política da Venezuela, algo que, à primeira vista, não deveria dizer respeito às atividades de um juiz de primeira instância em Curitiba. Vai saber…
Na parede de um restaurante chileno na Aldeia de Carapicuiba, tinha uma frase que se aplica a esta misteriosa licença do ex-juiz que virou superministro:
“Está tudo muito bom, muito bonito, mas está esquisito”.
Que novas surpresas nos aguardam?
Vida que segue.
É jornalista
Fonte: https://osdivergentes.com.br