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Melancolia ao centro: nem candidato, nem união

Teve um quê de melancólico o almoço que reuniu ontem os dirigentes de partidos de centro, convocado pelo DEM e pelo PSDB,  para reafirmar o compromisso de união na busca de um candidato da “terceira via” para disputar com Jair Bolsonaro e Lula a presidência no ano que vem. O que saltou aos olhos é que, até agora, não há nem união e nem candidato.

Antes de tudo, as ausências conseguiram ser mais eloquentes do que as presenças: Baleia Rossi, presidente do MDB, e Gilberto Kassab, do PSD, estavam, por coincidência, reunidos numa outra casa, em outro almoço, no mesmo bairro, em torno do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. O senador  vem sendo seguidamente tentado por Kassab a deixar o combalido DEM, que esta semana expulsou o deputado Rodrigo Maia de seus quadros, e vir a ser o candidato da terceira via do PSD – quem diga-se, não é o candidato da terceira via dos partidos reunidos no outro almoço.

Afinal, Kassab quer um candidato para chamar de seu, pronto a mudar de ideia a qualquer momento, e quem sabe até virar vice da chapa de Lula bem em cima da hora. Ou se aliar ao petista no segundo turno. O MDB de Michel Temer e Baleia Rossi, por sua vez, não tem entusiasmo para alianças com o DEM que o traiu na eleição para a presidência da Câmara, o que provocou a saída de Maia do partido de ACM Neto e seu iminente desembarque no partido de Kassab.

Com a recente confirmação da desistência do apresentador Luciano Huck, que era o candidato do coração do Cidadania e encantava também esses partidos, os líderes centristas almoçaram ontem em torno de um imenso vazio. Sergio Moro também é carta fora do baralho e sobraram Mandetta e a penca de pré-candidatos do PSDB: João Doria, Tasso Jereissati,  Eduardo Leite e Arthur Virgílio. Dessa turma toda, políticos mais experientes acham que vai sobrar Doria, apesar das dificuldades que seu próprio partido está criando à sua escolha nas prévias.

Mas Doria é duro na queda, e não por acaso virou governador de São Paulo. Está disposto a fazer acordos internos que podem envolver apoios substanciais a candidaturas estaduais de seus atuais oponentes no partido.

O PDT foi convidado mas não foi ao almoço, numa sinalização de que já tem um candidato e ninguém tasca: Ciro Gomes, que irá dividir votos com o candidato “centrista” se esse sujeito nascer até 2022.


Helena Chagas, jornalista

Fonte: https://osdivergentes.com.br