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Lula livre leva radicais ao desespero

A libertação de Lula mexeu não apenas com o Brasil mas, também, com grande parte do mundo, que vê nele um líder global.

Aqui em nosso país, onde parcela expressiva da população teve a visão obliterada pela mídia tradicional e as fakenews, pessoas fantasiadas de verde e amarelo saíram às ruas para atacar a Suprema Corte por ter, segundo a sua visão distorcida, libertado criminosos. As manifestações de rua, no entanto, convocadas pelos mesmos movimentos fascistas que atuaram para derrubar a presidenta Dilma Rousseff, foram inexpressivas, porque muita gente certamente entendeu que a decisão do Supremo teve o único e exclusivo objetivo de restaurar o respeito à Constituição Federal, quanto à presunção de inocência. A libertação de presos foi apenas consequência da reparação do abuso, que se tornou rotina no Judiciário. Esse julgamento nem aconteceria se a Carta Magna não tivesse sido desrespeitada no dispositivo que determina que ninguém pode ser preso sem que a sentença tenha sido transitada em julgado. E a Lava-Jato, sob o comando do então juiz Sergio Moro, inaugurou a violação da Lei Maior ao prender muita gente após a condenação em segunda instância, uma ação inconstitucional que acabou com a presunção de inocência.
Todo esse alvoroço, na verdade, tem um único motivo: Lula. Se o ex-presidente não fosse beneficiado com a decisão do STF ninguém estaria nem um pouco preocupado com a libertação de presos. O problema é o ex-presidente livre, o perigo que ele representa para os atuais donos do poder, que estão destruindo o país, entregando nossas riquezas naturais e nossa soberania para os estrangeiros e empobrecendo a população. O medo da força da liderança do petista é tão grande que a Globo, duramente atacada por Bolsonaro, inclusive com ameaça de não ter sua concessão renovada, exortou o Congresso, em editorial, para aprovar com urgência a PEC que autoriza a prisão após condenação em segunda instância.

Apesar de mantida a pão e água pelo governo Bolsonaro, sem publicidade, a Globo prefere ser achincalhada pelo capitão, que chamou seus dirigentes de “patifes” e “canalhas”, a ser criticada por Lula, talvez porque alimente a esperança de conquistar as suas simpatias com seus afagos diários sobre as reformas e planos econômicos. Por sua vez, Bolsonaro, que queria que Lula “apodrecesse na prisão”, ficou tão preocupado com a sua libertação que se reuniu com os militares para uma avaliação do panorama nacional a partir da volta do líder petista ao cenário político. O capitão, que não tem nenhuma liderança, não esconde o seu temor com o novo quadro que se desenha com Lula livre, que pode reorganizar a esquerda e fazer uma oposição mais consistente, com o apoio do povo.

Na verdade, a direita e a ultra-direita ficaram em pânico. Temem que o seu curto reinado, iniciado com o golpe de 2016 que destituiu a presidenta Dilma Roussef, acabe antes do término do mandato do capitão. No Congresso, que tem aprovado tudo o que Bolsonaro manda, os aliados do governo já se mobilizam para votar a PEC que estabelece a prisão em segunda instância, imaginando com isso levar Lula de volta à prisão, porque se movimentam agora em função das ações do ex-presidente. A deputada Joice Hasselmann, que foi escorraçada pelo capitão e chora por sentir na pele a fúria das milícias virtuais bolsonaristas das quais fez parte, parece que não aprendeu a lição e promete obstruir as votações da Câmara até a aprovação daquela PEC. Envenenados pelo sentimento de ódio que tomou conta dos partidários do capitão, os parlamentares aliados e os amarelinhos que saíram às ruas para pedir o fechamento do STF esquecem que sem o Supremo não haverá democracia e, como consequência, todos estarão sujeitos aos humores do autoritarismo do presidente. Esquecem, também, que poderão no futuro ser alcançados pela prisão após condenação em segunda instância, que agora defendem, pois depois de incluído na Constituição esse dispositivo não valerá apenas para Lula, mas para todo mundo, inclusive para o hoje ministro Sergio Moro. E mais: apesar do desespero dos descontentes com a liberdade do ex-presidente, não será muito fácil materializar esse casuísmo no Congresso, porque a oposição não está morta.

O fato é que muita gente que imaginava estar tranquila com Lula na prisão, inclusive o próprio presidente Bolsonaro, de repente entrou em desespero e ficou enlouquecida ao ver o ex-presidente livre e forte para liderar a oposição ao atual governo e impedir que destruam o país. Enquanto o capitão ameaça calar o líder petista com a Lei de Segurança Nacional, o que evidencía o medo de enfrentá-lo dentro das regras democráticas, o major Olimpio, líder do governo no Senado, parece mais apavorado ainda, pois pediu à Procuradoria Geral da República a sua prisão preventiva. Se Lula já assombrava esse pessoal da prisão, de onde só podia dar entrevistas sob a vigilância de policiais, agora virou pesadelo para essa gente que, provavelmente, não está conseguindo dormir direito desde a sua libertação. Na verdade, eles estão de tal modo atarantados que abrem várias frentes, inclusive contra o Supremo Tribunal Federal, que vivem intimidando com ameaça de fechamento, como se isso fosse fácil. E pretendem até pedir o impeachment do ministro Gilmar Mendes, convencidos de que na esteira dele outros cairão. Decididamente perderam o juizo. Afinal, quanto mais tentam pressionar a Suprema Corte mais espicaçarão o instinto de defesa dos ministros que, obviamente, saberão defender-se dos ataques com decisões que não agradarão aos seus agressores. Se depender deles, portanto, o ex-presidente deve continuar livre até se esgotarem todos os recursos da sua defesa, conforme determina a Constituição.

Diante disso, como não conseguirão a curto prazo levar Lula de volta ao cárcere, até porque a tramitação da PEC no Congresso é demorada, não se pode descartar, considerando o ódio e o radicalismo de bolsonaristas, a possibilidade de um atentado contra o ex-presidente, que tende a fortalecer-se rapidamente em seu périplo pelo país. Os radicais não se conformam com a sua liberdade, porque não sabem conviver numa democracia, e farão tudo para eliminá-lo.

Recentemente foi denunciada uma conspiração para mata-lo, inclusive a existência de uma vaquinha na Internet para angariar recursos destinados ao pistoleiro, o que deve levar o PT a reforçar a sua segurança, sobretudo em suas viagens. Afinal, ninguém sabe o que realmente está sendo tramado nos subterrâneos da política, e, portanto, todo cuidado é pouco. Não se pode ignorar, ainda, que o governo de Trump, aliado de Bolsonaro, não está alheio aos acontecimentos no Brasil e, por certo, já se mobiliza para tentar anular a força de Lula, com a cumplicidade dos traíras brasileiros. Depois de derrubarem o governo petista e elegerem o capitão, colocando as mãos em nossas riquezas naturais, os americanos certamente não pretendem correr o risco de ver o Brasil escapar de novo das suas garras, principalmente após o sucesso do golpe na Bolívia. Eles não descansarão enquanto não conseguirem dominar toda a América do Sul, o que deve levar o novo presidente da Argentina, Alberto Fernandez, a ficar em alerta, porque obviamente a sua eleição não agradou o Tio Sam. Eles sabem, também, que Lula pode ser o catalisador das forças sul-americanas para enfrentar as suas investidas. E com o líder petista livre o projeto norte-americano de domínio das Américas ficará bem mais difícil e tende a fracassar.

*Jornalista e escritor