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Lula e o medo de virar o Schumacher da política

Lula e o medo de virar o Schumacher da política

A sucessão sempre foi um tema sensível e ambíguo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um querer e não querer.

Em 2014, ele se viu sob pressão do PT para que fosse candidato novamente no lugar da então presidente Dilma Rousseff, que tentaria a reeleição. Curiosamente, naquele ano, o “queremismo” lulista tinha como um dos expoentes a ex-prefeita e ex-ministra Marta Suplicy.

Um ano depois, amargurada com a reeleição de Dilma e com denúncias de corrupção contra o partido no âmbito da Lava-Jato, ela deixou o PT. Agora, passados dez anos do “volta, Lula”, Marta voltou ao PT pelas mãos de Lula para ajudar a legenda a reaver o comando da Prefeitura de São Paulo, em aliança com o Psol.

Voltando a 2014, Lula esquivou-se da pressão de Marta e dos demais companheiros do PT que insistiam na sua candidatura. Ele tinha dois argumentos para desencorajá-los. O primeiro era de ordem ética e moral. Ele ponderava que assim como teve direito à reeleição em 2006, a mesma prerrogativa deveria ser assegurada a Dilma.

O segundo argumento era de caráter pessoal. Lula alegou a alguns interlocutores que não queria se tornar o “Michael Schumacher” da política. Fenômeno das pistas, o heptacampeão protagonizou com a Ferrari uma hegemonia ímpar. Dos sete títulos, venceu cinco consecutivos entre 2000 e 2004.

No fim de 2006, “Schumi” anunciou sua retirada das pistas, mas voltou para nova temporada em 2010. O novo período foi uma sequência de derrotas, até ele comunicar sua aposentadoria em 2012, em um final melancólico.

Há quem afirme que Lula não teria voltado às pistas, ou às urnas, em 2022, não fosse uma sucessão de reveses: se Dilma tivesse completado o segundo mandato; se não tivesse sido afastada pelo impeachment em 2016; se ele não tivesse sido preso no âmbito da Lava-Jato em 2018, em uma decisão que classifica como injusta, e que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou posteriormente; e se não fosse o único nome capaz de derrotar o bolsonarismo.

Movido pelo sentimento de revanche ou pelo “fígado”, Lula elegeu-se para um terceiro mandato. Porém, quem acompanha de perto os bastidores do poder sabe que, desde a primeira semana do atual mandato, o tema da sucessão aparece, invariavelmente, nas rodas de conversa sobre política.

Um ministro revelou à coluna que, recentemente, quando toca no assunto, Lula passou a falar mais em “sucessão” do que em “reeleição”. Na campanha, Lula descartava essa hipótese, mas em fevereiro de 2023, um mês após tomar posse, ele admitiu ao jornalista Kennedy Alencar que se tiver “saúde perfeita”, poderia se candidatar novamente em 2026. Não mencionou, contudo, o “risco Schumacher”, de um fim melancólico caso concorra, mas saia derrotado.

Em uma das primeiras reuniões deste ano, no dia 9 de janeiro, quando convocou 14 ministros para discutir a crise yanomami em Roraima, Lula fez um comentário sobre a sucessão. Segundo um dos participantes, ele disse que a conjuntura precisava melhorar para lhe dar condições de “fazer o sucessor”.

Mas um dos ministros que participou daquele encontro relativizou à coluna o comentário sobre a sucessão. Segundo este auxiliar, Lula não descarta a hipótese de reeleição, se o cenário for favorável para isso. Mesmo quando se refere ao “sucessor”, seria em sentido genérico, porque o “sucessor” seria o próprio Lula.

Este mesmo ministro acrescentou à coluna que Lula tem consciência de que se o bolsonarismo mostrar a mesma resiliência em 2026, o governo estiver bem avaliado, e a economia de vento em popa, ele não tem como se esquivar da candidatura à reeleição. “Ninguém mais tem o peso popular que ele tem”, salientou.

O outro argumento em defesa da reeleição é de que somente Lula seria capaz de manter unida a frente ampla que ajudou a elegê-lo em 2022. Se o PT lançar outro nome para a sucessão de Lula, a percepção deste ministro é de que os partidos vão se separar para lançar os seus candidatos.

Em paralelo, um quadro histórico do PT disse à coluna que, independente do que o destino reservar para 2026, é fundamental manter acesa a chama da reeleição para evitar que uma disputa de egos sabote o governo. “O clima no Palácio do Planalto ficaria insuportável”, alertou.

Pelo menos três nomes são lembrados como potenciais sucessores de Lula, caso ele não dispute a reeleição. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que o substituiu no pleito de 2018, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que foi duas vezes governador da Bahia, e elegeu o sucessor em 2022 - ambos do PT. O terceiro nome é o ministro da Justiça, Flávio Dino, do PSB, que vai deixar a política para assumir vaga de ministro do STF.

“Rui [Costa] é o cavalo de corrida do Lula, e Haddad é o filho que ele não teve, e esteve com ele em todos os momentos difíceis”, resumiu outro ministro, que também tratou do tema com a coluna.

Haddad e Dino aparecem como os ministros mais populares do governo nas redes sociais e em sondagens específicas. Um levantamento feito pela Quaest Pesquisa e Consultoria em dezembro perguntou aos entrevistados qual foi o melhor ministro no primeiro ano do governo. Haddad ficou em 1º lugar, com 7% das menções, e Dino em segundo, com 4%. Por isso parte do PT ficou feliz com a indicação de Dino ao STF, que o tirou da pista e da corrida sucessória.

Andrea Jubé, jornalista

Fonte: https://valor.globo.com/