“Sob comando de Moro, cai número de operações da PF - Foram 204 ações no primeiro semestre, menor resultado dos últimos 5 anos”.
Está na manchete da Folha desta segunda-feira. Alguma surpresa?
Após as revelações feitas pela Vaza Jato sobre o conluio de juízes e procuradores para direcionar processos e sentenças com prazo marcado, reportagem de Fábio Fabrini e Camisa Mattoso desmascara com números a grande farsa do lavajatismo.
A cada dia fica mais evidente, para quem tem olhos de ver sem fanatismo, que a Lava Jato não era uma operação policial de “combate à corrupção”, mas um projeto de poder, com começo, meio e fim, seguindo religiosamente um cronograma golpista.
Deflagrada no ano das eleições de 2014, em que Dilma Rousseff foi reeleita derrotando o tucano Aécio Neves, a Lava Jato perseguiu apenas um objetivo desde o início: quebrar o PT nos tribunais, já que nas urnas estava ficando cada vez mais difícil.
Com a população melhorando de vida, pleno emprego, a inflação e o dólar sob controle, o país respeitado em todos os fóruns internacionais, o alto tucanato e todo o establishment político-econômico-midiático que mandava no Brasil desde Pedro Álvares Cabral encontraram na Lava Jato o caminho mais curto para voltar ao poder.
Primeiro, derrubaram Dilma num processo kafkiano de impeachment baseado nas tais “pedaladas fiscais” e Michel Temer virou presidente para preparar o caminho da volta do PSDB ao poder.
Para as eleições seguintes, em 2018, havia só um problema: Lula liderava com folga todas as pesquisas e a direita não conseguia encontrar um candidato competitivo.
Foi aí que a Lava Jato partiu para a segunda etapa do cronograma, sob o comando do juiz Sergio Moro e do procurador Deltan Dallagnol, atuando sempre em parceria.
Condenaram Lula num processo sem provas, a toque de caixa, para tirá-lo da disputa presidencial e confiná-lo numa cela solitária em Curitiba, com o decisivo apoio do STF, da Globo, do mercado e seus associados nacionais e estrangeiros.
O caminho ficava aberto para o obscuro deputado e ex-capitão Jair Bolsonaro, um completo boçal, mas o único candidato que sobrou capaz de derrotar o PT sem Lula nas urnas.
Nada acontece por acaso, como relatam os repórteres da Folha:
“No período entre 2009 e 2019, o pico da produtividade [da Polícia Federal] se deu no semestre imediatamente anterior ao da estreia de Moro no governo de Jair Bolsonaro. Foram 360 ações entre julho e dezembro de 2018”.
A Polícia Federal, a Justiça Federal e o Ministério Público, a chamada força-tarefa montada na República de Curitiba, tinham cumprido sua missão.
Este ano, com Bolsonaro na presidência da República e Moro no Ministério da Justiça, foram todos para a praia, com o sentimento do dever cumprido, como se não houvesse mais corrupção no Brasil.
“Sob o comando do ministro Sergio Moro (Justiça), a Polícia Federal fez no primeiro semestre deste ano a menor quantidade de operações desde 2014. Foram realizadas, entre janeiro e junho de 2014, 204 ações, número mais baixo que o registrado nos nove semestres anteriores””, informa a matéria da Folha.
Moro agora está mais preocupado em impedir a instalação da CPI da Vaza Jato na Câmara para investigar mensagens da força-tarefa da Lava Jato, reveladas pelo The Intercept, em que o ex-juiz e seus procuradores mostram como funcionava a articulação nada republicana do Partido da Justiça.
Enquanto isso, Bolsonaro só pensa em livrar a cara do filho Flávio nas investigações sobre o caso Queiroz e suas relações com as milícias, nem que para isso tenha que atropelar a Polícia Federal, a Receita Federal e o Coaf, que investiga maracutaias financeiras, agora não mais nas “mãos limpas” de Moro.
O vento virou em Brasília.
De superministro a pedinte para Rodrigo Maia impedir a CPI, Moro passou de super-herói a funcionário subalterno de um governo eleito em nome do combate a corrupção, cada vez mais cercado por denúncias, que luta apenas para se segurar no cargo.
O mesmo STF que durante tanto tempo acobertou os desmandos da República da Lava Jato agora ameaça cumprir a Constituição.
Na semana passada, já impôs uma derrota por 7 a 3 para a Lava Jato, quando o presidente Dias Toffoli resolveu suspender a sessão para negociar uma saída.
Destruíram um país para voltar ao poder, acabaram nas mãos da família miliciana de Bolsonaro e seus generais, e morrem de medo da libertação de Lula, cada vez mais próxima, se as leis forem cumpridas.
Lula não tem pressa para sair da cadeia: espera ser inocentado e que seus algozes sejam punidos.
Nada como o tempo para provar quem é inocente e quem é culpado nesta trágica história que em cinco anos mudou a vida do país para pior.
A mesma porta giratória da cadeia de Curitiba pode abrir para uns e fechar para outros.
Cabe agora ao STF decidir quem entra e quem sai.
Esta semana pode ser decisiva.
Vida que segue.
Repórter desde 1964