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Investimento privado para o bem do Brasil

Existe um consenso no mercado de que em 2020 a economia brasileira terá um ritmo de expansão maior do que teve nos últimos três anos. É uma excelente notícia. Mas a principal novidade está na forma com que isso deve ocorrer. O setor privado ganhou mais protagonismo e o destaque deve ser para os investimentos. Se a agenda de melhora do ambiente de negócios for, de fato, viabilizada, o país deverá crescer mais intensamente e melhor, possibilitando avanços por um período mais longo.

O aumento da demanda por meio do consumo propicia a elevação da produção e da oferta de serviços, mas o crescimento baseado neste modelo esbarra em limites. Um deles é a própria capacidade produtiva – o número de máquinas, fábricas e estabelecimentos comerciais, por exemplo. Outra limitação decorre de mudanças tecnológicas, que, se não absorvidas, podem tornar os produtos nacionais menos competitivos, em qualidade e preço, nos mercados interno e externo.

Um crescimento consistente e sustentado só virá com investimentos e a ampliação da capacidade produtiva e a elevação da produtividade das empresas industriais. É fundamental, também, modernizar a infraestrutura, que é deficiente em várias áreas, aumentando a competitividade do país e a qualidade dos serviços.

Ressalte-se que a taxa de investimento em relação ao PIB do Brasil está aquém do necessário: caiu de 20% do PIB, em 2013, para 15,4%, em 2018. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que 151 países tiveram taxa de investimento maior do que o Brasil em 2018, quando a média anual foi de 26,3%. Ficamos atrás de nações da América Latina e do Caribe (média de 19,6%) e do conjunto dos países emergentes (33%). Essa enorme distância que nos separa dos nossos principais concorrentes precisa ser reduzida urgentemente.

A boa notícia é que a pesquisa Investimentos na Indústria, realizada no fim de 2019 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrou que a frustração dos planos de investimento industrial no ano passado foi a menor da década. O elevado porcentual de efetivação dos projetos sugere mais confiança das empresas na realização de investimentos futuros, que deverão ter alta significativa ainda neste ano. As empresas industriais iniciaram o ano com condições financeiras mais favoráveis e menor endividamento, a ociosidade também começa a cair e a demanda já dá sinais de que está melhorando.

Ao mesmo tempo, a expectativa geral é de otimismo, sobretudo com os avanços nas reformas estruturais, essenciais para tornar o ambiente mais propício para investimentos. O levantamento da CNI mostra, também, que o porcentual de empresas que pretendem investir em 2020 é o maior dos últimos seis anos e, ainda, que a indústria deverá puxar o crescimento da economia.

É necessário aproveitar este momento promissor, tornando as regras mais claras, aumentando a segurança jurídica e eliminando a tributação sobre bens destinados à produção. O aperfeiçoamento dos marcos regulatórios e das estruturas de gestão e planejamento setoriais é fundamental. É indispensável, também, aumentar os incentivos e os investimentos em pesquisa e inovação.

Outro problema a ser superado é a excessiva dependência de recursos próprios como fonte dos investimentos. O ainda elevado custo de capital, aliado à falta de acesso por dificuldade de garantias e pela inexistência de linhas de financiamento apropriadas, diminui o uso do crédito de longo prazo, o que atrapalha a concretização dos projetos.

Em meio à crise fiscal, o crescimento não pode depender apenas dos gastos dos governos, cuja capacidade de investir é muito limitada e, em alguns casos, até inexistente. O setor privado vai ser cada vez mais importante na ampliação dos investimentos. Em razão disso, a atuação das empresas deve ser estimulada por medidas firmes de política econômica. Esta é a chave para a retomada do desenvolvimento econômico e social do país e, por consequência, para a geração de empregos, o aumento da renda e o bem-estar da população.


*Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Artigo publicado no Estadão