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Impressões iniciais sobre o tabuleiro da política local

O dia 4 de abril foi um marco importante no calendário eleitoral, por ser o último dia das filiações para os pretendentes a candidato nas eleições de 2020 para os cargos de prefeito e vereador.

Configurado o tabuleiro nas regras já conhecidas, é hora de dissecar o que o senso comum dos eleitores e até alguns ditos especialistas não conseguem ver.

Os primeiros por motivos óbvios e os últimos por diletantismo e ou por colocarem o desejo à frente da razão.

O intervalo de dois anos entre as eleições nacional/regionais e local como determinado pela legislação eleitoral brasileira sugere que as análises mais atentas definam a conjuntura, quando imersa numa eleição local, como constitutiva de duas eleições, isto é: trate a eleição para prefeito e vereador como a antessala da eleição para presidente e governador.

É isso que resumidamente tentarei fazer nesse pequeno texto, com todos os riscos que tais situações acarretam.

A meu ver quem mais se fortaleceu nesse primeiro momento foi o MDB.

A filiação de vários pré-candidatos a prefeito indica que o velho MDB vai disputar pra valer na maioria das cidades e, como desdobramento natural da disputa de 2020, está condenado a ter um candidato a governador competitivo em 2022.

Por ter um mandato de 8 anos e ser a liderança mais conhecida, o senador Márcio Bittar me parece sair na frente na futura indicação do partido. O que mais pesa contra ele, além da sua proverbial incapacidade para formar grupo e fidelizar aliados, é a ambição de alguns que tende a crescer com a expectativa de poder gerada pelo partido.

Me resigno a não comentar sobre cada um dos ex-companheiros que ousaram somar com os maiores protagonistas do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.

Mas não deixaria de alertar sobre o que aprendi nesse quase um quarto de século (4 anos na prefeitura e 20 anos no governo do Estado) assessorando líderes, no afã de obter poder as vezes confundimos crescer com inchar, musculatura com gordura e só no final percebemos que vale mais ficar com os que teimam em não se render. Esses são diferentes dos que correm ao som do primeiro trovão imaginando um dilúvio iminente.

Cuidado, às vezes a chuva não é tão forte como prenunciada.

A aliança mais que heterodoxa que venceu a eleição de 2018 no Acre, vale dizer sem projeto, não existe mais.

Os sinais emitidos são muitos, a postura do MDB é a mais eloquente, mas o que ocorreu entre o PP e o PSDB é digno de registro.

O vice governador fez crescer seu partido tanto quanto o governador ou mais. Esse fato já denuncia o caráter anêmico do titular. Só um líder fraco ou muito mal assessorado, me parece ser as duas coisas, permite o protagonismo do vice.

 Um vice protagonista não serve para governo nenhum, nem à esquerda nem à direita. A questão não é ideológica, é de governança. Ninguém se filia por predileção no partido do vice, o banquete é do governador. Por concessão ele divide a iguaria em pequenas porções, afinal a sedução que atraiu o novo filiado é proveniente da caneta do titular e não do que o substitui eventualmente.

Do núcleo palaciano anuncia-se duas candidaturas à prefeitura de Rio Branco, uma protagonizada pelo partido do governador e a outra pelo do vice.

Se esse cenário se confirmar a governança, que já não é das melhores, tende a piorar.

Unidade política marcada pela confiança é condição necessária para uma boa gestão. Com duas candidaturas fica evidente o esgarçamento da unidade e a confiança mingua a cada dia.

Mas não sejamos ingênuos. Num Estado em que a iniciativa privada é privada de iniciativa, o governo tem um peso descomunal, mesmo não tendo o sucesso como marca, como é o caso do atual. O senador Sérgio Petecão que o diga.

A aproximação política do senador Petecão ao governador indica uma aliança sólida que se estenderá até 2022.

O senador não tem partido. Tem uma sigla e precisa ancorá-la em algo que a sustente, no caso em tela a estrutura de poder do governo estadual é bem oportuna.

Essa inesperada aliança descortina duas possibilidades para 2020: uma delas, a chapa especulada pela imprensa entre o José Bestene e a ex-suplente de deputado federal Marfisa Galvão. Vale dizer que esta chapa, se confirmada, reedita uma aventura de 2000, quando a chapa, Bestene/Petecão teve uma performance pueril.

Se Karl Marx tiver razão ao dizer que a história não se repete… estaremos diante de algo no mínimo preocupante.

A outra é a possibilidade de Tião Bocalom encabeçar a chapa com um vice do PSD. Bocalom é um dos maiores conhecedores do tortuoso caminho do Purus até Manacapuru. Um contumaz perdedor, mas montado na máquina governamental com o apoio de Petecão, será competitivo.

 Se o senador Petecão faz um movimento de recuo em 2020 certamente é porque tem um enlace generoso prometido para 2022.

Nessa condição o senador seria candidato a governador como já era especulado desde o fechamento das urnas em 2018. Em sendo assim, uma pergunta se impõe como relevante: para onde irão na eleição de 2022 o atual governador e o seu vice?

A correlação de forças saída da eleição de 2020 enunciará um novo tabuleiro para o embate de 2022, só após esse primeiro round teremos de modo mais cristalino a consolidação do verdadeiro cenário.

Mas é razoável cravar a existência de três candidaturas encorpadas para 2022, a saber: os dois senadores mencionados e a do PT.

Nessa altura o leitor está inquieto para saber do PT. O propósito do PT em todo o Brasil é recuperar a Presidência da República e restaurar a soberania perdida com Temer, quando o povo brasileiro percebeu que chegara ao fundo do poço, aprofundada por Bolsonaro quando se descobriu que no fundo do poço havia um porão.

Retomar o crescimento econômico com inclusão social, quando se trata de PT, não é promessa, é compromisso. Afinal de contas “a prática é o critério da verdade”.

Para ser coerente com a ousada e grandiosa tarefa de disputar a Presidência da República, o PT deve lançar o maior número de candidaturas majoritárias em 2020 e 2022. A possibilidade do PT praticar uma política caudatária em Rio Branco, isto é, abdicando de lançar seu próprio candidato e aceitando a ignóbil posição de vice, só tem sentido na mente de quem faz política por diversão ou folclore.

Após 20 anos no comando do governo do Acre tendo clareza de sua tarefa, o PT deve recorrer aos ensinamentos da história. É sábio aprender com o erro alheio. Refiro-me ao erro cometido pelo MDB, que, após a acachapante derrota de 2002, retirou o 15 das disputas majoritárias para prefeitura da capital e governo.

Após uma década ressurgiu na campanha de 2012 como mera nota de rodapé. Rio Branco é onde pulsa mais forte o coração da política do Acre, o 13 estará na rua sim competindo e vitaminando as futuras disputas.

A crise gerada pela pandemia do coronavírus trouxe na sua esteira uma dúvida e uma certeza.

A dúvida é o período de quando a pandemia será plenamente debelada. A certeza diz respeito a crise econômica subsequente.

A queda do PIB projetada em 5% pela maioria dos economistas, infelizmente, já é garantia de queda de todos os repasses constitutivos do orçamento do Estado. Em se tratando de um Estado dependente como o nosso, garantir o equilíbrio fiscal sem parar de investir é uma equação bem indócil.

O cenário acima me autoriza dizer que cada vez mais estamos diante de um quadro que demandará a eleição de líderes que comprovadamente demonstrem capacidade de resolver.

Com criatividade, ousadia, experiência. Fazer em período de bonança é comum e banal, pois é tarefa para qualquer um. Mas, diante da escassez anunciada, é recomendável agir com cautela, ser seletivo por assim dizer, pois é tarefa para quem já provou que sabe fazer acontecer.

Por tudo isso, a direção do PT e suas principais lideranças acertaram em deliberar em favor de lançar candidato em Rio Branco em 2020, independente do inédito e desdenhoso silêncio que o PT recebeu como resposta. Como diria Bertold Brecht “primeiro é preciso mudar o mundo, depois é preciso mudar o mundo mudado”.

Nos aguardem.


Carioca Nepomuceno Nepomuceno é professor de História na UFAC e dirigente do PT/AC.