À sombra de um arvoredo, no semáforo ao lado do Ministério da Economia e perto do Congresso, Jasmim, Antônio e Ângela - Fotos Orlando Brito
No dia em que a mídia dá notícia sobre folha de pagamento salarial de quase meio milhão de reais para magistrados da República e a manutenção da verba para o fundo eleitoral em torno de cinco bilhões, vemos cena como esta aí da foto. Longe da dinheirama do poder e perto da realidade da pobreza popular. No semáforo que fica a 100 metros do Ministério da Economia e bem perto do Congresso Nacional, uma situação concreta e verdadeira: brasileiros buscando a sobrevivência com o que lhe resta, pedir socorro.
Este é, na verdade, lance que tornou-se comum vermos em praticamente todas as esquinas do país. Pessoas sem renda a rogar por todo tipo de doações. A diferença é que em Brasília, isto acontece bem à vista das autoridades que dirigem o Brasil.
Jasmim Michaele Silveira é mãe de três filhos. Um tem cinco anos de idade. Outro, três. O mais novo, seis meses. Moradora do bairro de Samambaia, na periferia de Brasília, ela concluiu o ensino médio. Trabalhava em uma lanchonete que teve de reduzir os custos para enfrentar a crise na economia. E seu nome estava na lista de demitidos. Aos 25 anos, está sem emprego desde 2020. Com o marido, para sustentar a família, resta-lhe pedir auxílio nos sinais de trânsito quando os automóveis param.
A jovem Jasmim e o marido usam cartazes com palavras de apelo para tocar a emoção dos passantes. Têm como estratégia ficar em locais diferentes por achar maior a chance de serem vistos. Dois dos meninos vão com ele. O bebê, fica com ela por conta da amamentação. No fim do dia reencontram-se e, em geral, conseguem arrecadar em torno de vinte reais.
Ângela Silvestre tem 29 anos e cinco filhos. Igualmente desempregada. Já foi auxiliar de escritório, babá, diarista e agora, sem horizonte de trabalho, vê em pedir auxílio nas esquinas a solução para seu drama. Até o momento dessa foto aí, 13.18hs dessa quarta-feira, havia arrecadado 5 reais e 90 centavos em moedas. Já Antônio Santos é paranaense. Pedreiro. Também não consegue emprego. Não tem endereço. Aliás, tem. A rua. Hoje, com 45 anos, dorme entre os ônibus estacionados à noite na Rodoviária da Capital.
Jasmim, Ângela e Antônio não se conheciam. Mas a similar e triste necessidade, os tornou amigos. Escolheram ir para o mesmo local por uma razão: é por onde transitam muitos automóveis novos e de modelos caros. É indicação da possibilidade de receber doações. Para que os três tenham chances iguais de “acesso às ajudas”, revezam nos momentos de abordar os motoristas. Ainda que em ambiente aberto, todos usam máscaras para precaverem-se da Covid. Esses três brasileiros são eleitores também. E dizem não saber em quem vão votar para presidente. Aliás, nenhum dos até agora candidatos está falando para o eleitor.
Orlando Brito, repórter fotográfico
Fonte: https://osdivergentes.com.br