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Guerra da vacina: Bolsonaro assusta a população

Não é apenas um sinal de que os lunáticos que acham que a vacina chinesa virá contaminada pelo vírus do comunismo estão de volta. É muito pior do que isso, a começar pela demonstração de que o lunático-mor da nação parece ser o presidente da República. Ao postar hoje cedo que a vacina chinesa  “não será comprada”, a fim de satisfazer apoiadores ideológicos que o questionavam, Jair Bolsonaro disseminou a confusão e a insegurança num assunto de extrema importância para a população —  a imunização contra um vírus que já matou quase 155 mil pessoas. Pior: mostrou mais uma vez que, para ele, as razões políticas estão acima do bem estar dos brasileiros.

Na maioria dos países que lidam com tragédias assim, que exigem grandes mobilizações como as de vacinação, a comunicação é fator chave de sucesso. Ou seja, procura-se esclarecer a população, em campanhas e mensagens objetivas e claras, a fim de que todos participem e entendam o que vai acontecer. Bolsonaro, porém, entrou na conversa para confundir. Parece, para variar, estar pouco ligando para a vida e para a saúde dos cidadãos.

Se foi um jogo de palavras, como alguns assessores da Saúde querem fazer crer, foi de muito mau gosto. O presidente disse que não vai comprar a vacina “chinesa”, mas aquela que está sendo fabricada pelo Butantan junto com a Sinovac, da China, seria “brasileira”, numa indicação de que o anúncio feito ontem pelo ministro Eduardo Pazuello sobre a compra de 46 milhões de doses está de pé. Será? Vai ter vacina? O assunto vai render dias, semanas e meses, num desnecessário clima de incerteza que os brasileiros não merecem mais viver. Em vez de acalmar, o chefe da nação assusta.

A clara má-vontade do presidente da República com a vacina que está sendo fabricada em São Paulo tem nome, endereço e telefone: o governador João Dória, que parece ter entrado também numa disputa política em torno da imunização redentora. Mas não há desculpa para os prejuízos que tal atitude pode provocar numa população já tão sofrida.


Helena Chagas, jornalista

Fonte: https://osdivergentes.com.br