Paulo Guedes desfez-se dos anéis na tentativa de salvar os dedos. Antecipando a troca de seis de seus auxiliares – inclusive o mais importante deles, Waldery Rodrigues, da Secretaria de Fazenda – Guedes tenta afastar o olho gordo do Centrão sobre a sua superpasta. Há poucas semanas, ele tomou conhecimento de que já havia líderes de partidos do bloco oferecendo secretarias de seu ministério a economistas na praça.
Essas sondagens eram acompanhadas pela garantia, dada por esses líderes, de que o atual titular da Economia não estaria mais lá para atrapalhar a nomeação e nem os planos de esquartejamento e recriação de pastas como Planejamento, Trabalho e Indústria e Comércio. Paralelamente, corriam os rumores de que Jair Bolsonaro aproveitaria esse desmembramento para deslocar o arqui-inimigo de Guedes, Rogério Marinho, para o Planejamento, a fim de destinar o Desenvolvimento Regional a um político.
Antes de tudo isso acontecer, Guedes saiu a campo e, ao menos temporariamente, parece ter virado – ou ao menos paralisado – o jogo. Tirou Waldery, que passa a ser seu assessor especial e era um dos principais alvos de críticas dos políticos nas negociações com o Congresso. Aproveitou o movimento para liberar outros auxiliares que vinham pedindo para sair há tempos, sem dar a impressão de que se trata de uma debandada.
Interlocutores do ministro acreditam que, ao menos por enquanto, ele conseguiu estancar as pressões mais fortes por sua saída e pelo desmembramento da pasta. Mas até quando? Ninguém se arrisca a prever se serão dias ou semanas, mas todo sabem que o Centrão de Arthur Lira, Marcos Pereira, Ciro Nogueira e outros vai voltar à carga. Provavelmente, numa velocidade proporcional à evolução dos trabalhos da CPI da Covid no Congresso.
Jair Bolsonaro, que já é um refém dos monstros que ajudou a criar no Legislativo, verá seu espaço de manobra cada vez mais reduzido com o avanço das investigações, e a cabeça de Guedes continua na fatura do Centrão.
Jornalista, formada na Universidade de Brasília em 1982. De lá para cá, trabalhou como repórter, colunista, comentarista, coordenadora, chefe de redação ou diretora de sucursal em diversos veículos, como O Globo, Estado de S.Paulo, SBT e TV Brasil (EBC). Foi ministra chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República de janeiro de 2011 a janeiro de 2014.