A eleição de São Paulo foi chacoalhada por um personagem novo e barulhento. Candidato pelo nanico PRTB, Pablo Marçal tumultuou os debates e obrigou as chapas favoritas a reverem suas estratégias. O coach entrou em cena no papel de franco-atirador. Apostando na baixaria, atropelou regras, disparou acusações sem provas e provocou os adversários até tirá-los do sério.
Marçal avacalhou os debates com um objetivo claro: fabricar cenas de confronto para a internet. Editadas em vídeos curtos, as imagens viralizaram nas redes sociais, onde ele se apresenta como “servo do povo” e coleciona milhões de seguidores.
O bolsonarista ficou rico vendendo cursos e livros de autoajuda financeira. “O sucesso está esperando por você”, afirma, em texto que promete ensinar os “segredos da prosperidade”. Ao menos para o coach, o blablablá já se mostrou eficaz. Ao registrar a candidatura a prefeito, ele declarou patrimônio de R$ 193 milhões.
Na segunda-feira, Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e José Luiz Datena faltaram ao debate da revista Veja. Em protesto contra os golpes de Marçal, fizeram um pacto para esvaziar o ringue. O nanico compareceu, mas se recusou a responder às perguntas. Preferiu usar o tempo para ler propostas redigidas por assessores.
Com fama de partido de aluguel, o PRTB já abrigou figuras como o ex-presidente Fernando Collor e o general Hamilton Mourão. O fundador da sigla, Levy Fidelix, notabilizou-se pelo bigode frondoso e pela obsessão com o aerotrem. Seu herdeiro promete construir um teleférico e erguer o prédio mais alto do mundo, como se o problema da capital paulista fosse a ausência de arranha-céus.
O fenômeno Marçal é um novo sintoma da degradação da política, que passou a replicar o pior das redes sociais. Há dois anos, ele recebeu 243 mil votos para deputado, mas teve a candidatura cassada por irregularidades no registro. Agora os grandes partidos torcem para que a Justiça Eleitoral volte a tirá-lo do jogo. Motivos não faltam, mas parece temerário terceirizar o embate para os tribunais.
Não deveria ser tão difícil desmontar o circo armado pelo coach. Sem preparo e sem propostas, ele ainda ostenta uma folha corrida notável. Entre outros rolos, já foi condenado e preso por integrar uma quadrilha que invadia computadores para limpar contas bancárias.
Bernardo Mello Franco, jornalista
Fonte: https://oglobo.globo.com/