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Esquerda é o fiel da balança na sucessão da Câmara dos Deputados

O Rio de Janeiro está dando as cartas. Dois políticos estão disputando o protagonismo. Jair Bolsonaro, nascido em Glicério (SP), e Rodrigo Maia, natural de Santiago do Chile, disputam a primazia no cenário político brasileiro.

Há muito que a ex-capital não via um seus filhos na linha de frente. Com tamanha projeção, no passado recente, só o fluminense de Niterói, almirante Augusto do Amaral Peixoto, genro do presidente Getúlio, e o engenheiro gaúcho Leonel Brizola, afilhado de casamento de Vargas, estiveram no proscênio. Um comandava o PSD o outro o PTB. Carioca mesmo só Carlos Lacerda, mas este foi apenas um golpista frustrado que derrubou dois presidentes e não levou nada. Agora esses dois, Jair e Rodrigo, botam o Rio de volta na primeira fila.

No momento a disputa é pelos favores da oposição. O leque de partidos de esquerda, com seus 124 votos, pode decidir quem terá o comando da Câmara dos Deputados nesses próximos dois anos decisivos. Isto porque do jeito que está o País, com a economia em frangalhos e a saúde pública em colapso, serão dois anos muito difíceis para os governantes. As eleições estão aí e não há muito o que apresentar. É preciso encontrar saídas.

O presidente da Câmara precisa fazer seu sucessor para se manter na primeira linha de fogo, como o grande antagonista do presidente e continuar disputando a liderança na antiga Guanabara. Bolsonaro tem de se recuperar das duas crises, sanitária e econômica, retomando sua agenda ideológica para manter seu eleitorado em pé. Embora os institutos de pesquisa digam que com seus índices de apoio ele estará no segundo turno, não pode se descuidar. Aí estão os problemas dos dois. Omissões e relatorias.

O quadro eleitoral na Câmara é o seguinte: o PT e aliados não têm força para disputar a presidência da Casa, mas podem decidir para que lado a coisa vai. Apoiando Rodrigo Maia fazem uma Câmara incômoda para o governo, nos moldes da gestão atual, ora aqui, ora ali. Podem ganhar uma vice-presidência, posições em comissões e relatorias.

Mas não é só disso que o partido precisa. Entretanto, há uma questão regional atrapalhando tudo, pois o candidato é o deputado Baleia Rossi, do MDB de Michel Temer, inaceitável para o PT paulista. Fora disso pode cair na mão da ministra da Agricultura, Tereza Cristina (MS), paraquedista no DEM de Rodrigo Maia. Não serve para manter o presidente na ponta da faca (epa!).

Já numa aliança entre Bolsonaro, o PT pode chegar mais perto de seu objetivo imediato, que é uma legislação que amenize ou até anule os efeitos da Lava Jato sobre o ex-presidente Lula e vários de seus ex-ministros.

Soltar Lula não é uma demanda apenas sentimental dos petistas. O ex-presidente é, na realidade, o único político brasileiro com capacidade eleitoral de enfrentar Bolsonaro no segundo turno de 2022. Para ele ter o registro tem de mudar a Lei da Ficha Limpa. Aí está! Por outro lado, o presidente da Republica precisa ter o controle da Câmara para reavivar sua agenda ideológica, que será seu cavalo de batalha para a reeleição. Em troca de algumas legislações que beneficiem os petistas envolvidos em processos, a esquerda lhe daria o cargo de presidente da Câmara. Seu candidato é o deputado Arthur Lira, do PP de Alagoas, o nome do Centrão.

Com o controle da pauta, o governo poderia manter seus eleitores aquecidos. Entretanto, é difícil imaginar os dois grupos compostos para votações, a direita derrubando as leis anticorrupção e a esquerda fazendo vistas grossas de relaxamento das legislações ambientais e apoio ao endurecimento penal com bandidos e condescendência com a atividade policial.

Os dois políticos recolocam o Rio de Janeiro no cenário. Ambos têm a mesma origem de classe, ou seja, vêm da classe média. Tanto um quanto o outro foram catapultados para essas posições cavalgando o colapso dos partidos tradicionais e de suas lideranças.

Rodrigo Maia era um parlamentar destacado, mas não tinha a densidade que ganhou operando com muito senso de profissionalismo entre as brechas abertas no tumulto do governo Bolsonaro. O presidente, bem, este não precisa de comentários. Com todas suas idiossincrasias, o capitão demonstra ter sete vidas. Não é pouco. Esses dois levaram para o Planalto Central a graça e beleza da Cidade Maravilhosa. Mesmo com todos seus ex-governadores vivos presos ou afastado, o Rio voltou.


Pinheiro do Vale, jornalista

Fonte: https://osdivergentes.com.br