Os governos federal e estaduais devem trabalhar de forma incessante para debelar todo e qualquer foco de golpismo no país a partir de agora. Sempre dentro do limite da lei, é necessária uma política de tolerância zero contra o planejamento e a execução de invasões e depredações de prédios, bloqueios de ruas, estradas ou qualquer outra tentativa de quebra da ordem pública. O mote deve ser: 8 de janeiro nunca mais.
Manifestações de apoio e de protesto envolvendo esse ou aquele político ou partido fazem parte do jogo democrático. O cenário de devastação na Praça dos Três Poderes ontem, um dia após o ataque aos prédios do Congresso, Supremo Tribunal Federal (STF) e Palácio do Planalto, é prova de que a minoria de bolsonaristas radicais está em outra categoria. Para aqueles convictos de que o dia 30 de outubro de 2022 ainda não acabou e a solução é a violência, o peso da lei precisa ser implacável, respeitado o devido processo legal.
A mensagem deve ser óbvia a todos. Atos de terrorismo contra o Estado brasileiro não serão tolerados. Um primeiro passo foi dado com a prisão de cerca de mil pessoas em Brasília ontem e o desmonte de acampamentos nas imediações de quartéis em todo o país. É preciso fazer muito mais.
Sem hesitação, é urgente um minucioso trabalho de investigação. Falhas nessa etapa certamente facilitarão a vida de criminosos quando chegar a hora da decisão da Justiça. Por isso a necessidade de agir dentro da lei, ser ágil e cuidadoso na obtenção de provas, principalmente dos mandantes, que são tão ou mais culpados pela anarquia por terem insuflado ou financiado o movimento golpista.
Em algum momento, outros assuntos chamarão a atenção da opinião pública. Em meses, talvez alguns se perguntem se o quebra-quebra foi em janeiro ou fevereiro. Será um erro deixar o tema sair das prioridades do país até que os julgados como inimigos da democracia tenham recebido suas sentenças.
Punir os responsáveis é parte importante da estratégia para evitar novas ocorrências como a de domingo. Notícias sobre prisão servem como dissuasão até mesmo para quem acredita nas teorias conspiratórias mais fantasiosas sobre as urnas eletrônicas. Mas há sempre os radicais entre os radicais. Para impedir os crimes desse grupo, as polícias precisarão fazer melhor o trabalho de inteligência e agir preventivamente.
Foi evidente que a polícia do Distrito Federal falhou fragorosamente. Parece mentira que centenas combinaram o que fazer e se deslocaram à Esplanada dos Ministérios sem que diferentes órgãos policiais estivessem dispostos a agir. Diante disso, os governos federal e estaduais deverão deixar claro à parte da categoria favorável ao bolsonarismo radical que traições à Constituição não serão toleradas.
Caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a toda a classe política unir o país contra os golpistas, que são uma minoria. Não há mais espaço nos discursos e declarações para conjunções adversativas (mas, porém, contudo, todavia...). Episódios como o de domingo são inaceitáveis numa democracia, não podem jamais se repetir e devem ser repudiados, sem ressalvas, por todos.
Fonte: https://oglobo.globo.com