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Eleições: elucubrações intempestivas?

Bolsonaro não cansa de se suicidar. Perdeu o controle do bonde. Já viram o preço do óleo? Ossos atingiram valores nunca vistos. Pé de galinha virou luxo. A classe média nem sonha mais com picanha. O que dizer da insistência no vexame negacionista? No exterior Bolsonaro passou a ser piada sem graça.

Política internacional? Isolamento como princípio. Bolsonaro resolveu ver Putin em pleno confronto entre  Rússia e Ucrânia. Mantém uma relação estúpida com a China. Considera Biden um comunista. Acredita numa conspiração socialista na América Latina…

Generais encontram-se esgotados com as esquisitices do Comandante em Chefe das Forças Armadas, sobretudo com os critérios imorais de mérito na promoção de cem (100) generais quatro estrelas ao posto de Marechal. A maioria dos agraciados recebeu o mimo de pijamas sem conhecer um campo de batalha.

Evangélicos muito divididos com as sandices do presidente ou com as formas desiguais de tratamento entre as igrejas. Empresários  cada vez mais descrentes na capacidade de Guedes de reindustrializar o país e fomentar um crescimento geral na economia.

Mesmo entre bolsonaristas o pau vem quebrando. Envolve extremistas e setores moderados, insatisfeitos com as escolhas do Messias por um centro no qual os interesses daqueles não encontram convergência mínima.

No Planalto os mais próximos de Bolsonaro já admitem que ele pode não vir a ser candidato, caso não reverta o atual quadro desfavorável. Saindo da disputa o presidente colocaria todas as fichas contra Lula. No Senado teria a imunidade para escapar ou procrastinar os processos a ele destinados por negligência, no mínimo.

Sem Bolsonaro, Lula tenderia a derreter. Abriria inclusive, um espaço considerável para  Ciro Gomes e, com curiosa força, para Moro e Dória. Estes encontram-se unidos no suspeito pacto de apoio recíproco quanto ao mais votado. Bolsonaro fora da disputa direta seria determinante nos dois turnos. Um infiel da balança.

Mas o “jogo” não começou para valer. Ninguém ganha um jogo antes do início da partida. Aliás, como se diz no futebol, “O jogo só termina, quando acaba”. Muita água ainda vai passar embaixo da ponte!

Por uma razão muito simples Bolsonaro precisa sobreviver ao pleito deste ano. Ele sabe que deverá perder. E sem foro privilegiado, ele irá preso e, sem dúvidas, a maioria dos Ministros do STF está disposta em metê-lo na cadeia. Por outro lado, as Forças Armadas não querem o retorno do Lula. Para eles, a melhor alternativa seria MORO, mas aceitam qualquer um que não seja Lula ou Bolsonaro! O imbróglio é imenso.

Então, bolsonaristas e lulistas cheios de certezas com seus salvadores, calma lá! Desejo e realidade são coisas distintas. As possibilidades estão dadas e nenhuma pesquisa permite projeções seguras e definitivas. E não se trata de ideologias em jogo. As retóricas direita/esquerda, diluídas na bobagem fascismo versus comunismo, simplificam e embaralham as já confusas cartas de interesses de grupos, estamentos e corporações!!, camufladas sob diversos rótulos viajantes, entre os quais o genérico dos genéricos: a “luta de classes”.

Abril. Lá chegando ratos sairão dos porões e gatos escaldados vão repactuar para assegurar seus privilégios, poder e dinheiro. As ideologias desbotadas contarão pouco diante da força neoliberal comum a todos os pragmatismos de governos e das pressões corporativas que vêm domando todas as governabilidades desde FHC a Bolsonaro. Todos, sim, foram neoliberais com seus chicotes e esporas ou freios e bridões nos encaminhamentos daquele interesse hegemônico.

Diante do transformismo regulamentador a questão revolucionária é, no máximo, a de reinstitucionalizar o país e ela não passa pela régua dos radicais polarizados, tampouco por um centro venal, normalmente quando a radicalidade escamoteia a profundidade do nosso atoleiro social e a centralidade é ocupada por mercenários de todas as cores.

Sinuca de bico? Sem dúvidas, embora a sociedade possa configurar outras relações de poder visando a redefinir no centro as forças, democráticas, capazes de anular o bolsonarismo e fazer avançar politicas de redução de danos conjugadas a ações afirmativas de igualdade. Tarefa árdua pois enfrenta nas autoproclamadas esquerdas seus próprios desafios, a começar por uma radical autocrítica e pela consciência de que a esperada retomada do poder pode ser mais uma armadilha, paralisando ainda mais os movimentos sociais. Mas esse assunto fica para outra oportunidade.


Edmundo Lima Arruda Jr., advogado, professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina, membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros.

Fonte: https://osdivergentes.com.br