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Economia, saúde e família. E a covid

Não vou tratar aqui de Economia no sentido macro do termo, como fazem os governantes quando usam a expressão. Sem pretensão alguma, vou apenas me referir àqueles que ganham seu sustento dia a dia, que não têm jeito de guardar dinheiro algum pra ser gasto quando necessário, e que não podem ficar em casa fazendo isolamento.

São milhões, bilhões de pessoas no mundo inteiro – mas também só vou escrever sobre o Brasil. E mesmo aqui, só me refiro a quem é obrigado a sair de casa para garantir sua sobrevivência, seja para trabalhar para uma outra pessoa, uma empresa que não fechou suas portas, um hospital, os chamados setores essenciais e até mesmo os que nos sinais de trânsito perambulam pela rua pedindo uma esmola ou vendendo um treco qualquer…

Vou falar aqui de SAÚDE mas levando em conta desde os que têm que aguardar um chamado do SUS até os que podem ser atendidos por planos de saúde em clínicas pequenas, médias ou grandes ou na rede hospitalar existente no país e que precisam só mesmo daquela atençãozinha básica de uma doença qualquer das que acometem, no geral, quem já passou dos 50 anos de idade…

Quando penso na palavra FAMÍLIA só quero me referir a quem tem pai e mãe, ou apenas mãe (o mais comum), e estes ou estas já passam de certa idade. E acrescento que as pessoas a que me refiro aqui, quando falo de família, também podem ter filhos pequenos ou ainda solteiros e, portanto, os pais ou a mãe daqueles a que me refiro são também avós.

E me pergunto: como fazer isolamento os que precisam trabalhar fora de casa, que pegam ônibus ou mesmo que tenham uma “lata velha” qualquer de um carro, uma moto (barulhenta com o cano da descarga destampado ou solto) ou, agora, mais modernamente, os que fazem sei-lá-o-quê em suas bicicletas que elas ficam “envenenadas” e andam mais rápido que os antigos bondes nos quais eu cortava Belorizonte de antigamente… ???!

Como fazer isolamento? Se trabalham com outras pessoas nem sempre podem ficar distantes delas. Imagino o atendimento num hospital ou numa clínica maior: os enfermeiros e auxiliares vão trabalhar mudos o tempo inteiro, zanzando pra lá e pra cá, levando pacientes (impacientes) correndo até a sala de exames?? Ainda que usem máscara o tempo todo e que passem álcool gel até esfolar a palma das mãos??? E os que são “cuidadores” ou domésticas (“secretárias do lar”, para a esquerda politicamente correta) em casa de idosos – lembra-se que a primeira infectada por transmissão local foi uma doméstica que prestava serviços para uma madame da Bahia que tinha chegado da Itália! Pois é.

E se você tiver aquele piripaque e precisar fazer exames médicos, ir a uma consulta, medir, pesar, fazer um eletrocardiograma ou uma mamografia… E se você der à luz justo agora no tempo da pandemia???

E você tem também que visitar sua mãe – ou você é um “Sem Mãe”? E quando chegou o Natal – poxa, isso é faltar a caridade, a pobre coitada – quanto anos mais terá pela frente e quando ela se for? E meu velho pai??? Vou lá correndo… nem abraço. Só levo a lembrancinha. Nem lembrancinha posso levar esse ano! (Mas vou eu e meu marido que não temos filhos. Depois é que vai minha irmã, viúva com os dois filhos adolescentes. Claro que o meu irmão que morou tanto tempo fora, também vai lá dar um pulinho só…) Mas todos tinham lá seus encontros com outras domésticas, secretárias do lar, ou são trabalhadores da saúde (uai, se eles não transmitissem também, por que vacinarem prioritariamente?).

E aí, nesses vai e vens do mundo “normal”, quantas pessoas se cruzaram, tinham vírus e não sabiam, só haviam dado uma tossida naquela manhã e, e, e, e…

A covid-19 pega é assim.

E mata assim.

Mas cada um de nós é um só. Tenho de comer e pagar minhas contas. Preciso ir ao médico. No Natal vou ver minha mãe só um minutinho.

A covid pega assim.

E mata…


Sandra Meira Starling é uma professora, advogada e política brasileira

Fonte: https://osdivergentes.com.br