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É possível abreviar a agonia do Brasil

É inútil desperdiçar tempo e dispersar energia tentando encontrar estratégia e esperteza por trás ou nas entrelinhas das declarações

estúpidas, dos gestos autoritários e da postura antidemocrática de Jair Bolsonaro. Ele age dessa forma porque é ignorante, vil, despreparado, inculto, misógino. Enfim, é imprestável para ocupar o cargo ao qual foi alçado com a cumplicidade de 39% dos cidadãos brasileiros aptos a votar em 2018.

Quem votou no 17 em quaisquer dos turnos da última eleição presidencial, por qualquer razão, é sócio dessa agenda deletéria que está a transformar o Brasil num hospício peculiar onde os doentes detêm o controle da porteira. A História tratará de indexá-los em algum rodapé dos livros que contarão essa quadra infeliz. Quem conseguiu permanecer são, luta para conservar a lucidez e abreviar a ascendência do Mal sobre o destino de um país que não vê mais futuro algum.

No mundo, caminhamos celeremente para regressar ao posto de grande mancha geográfica irrelevante no planisfério. A avidez derrogatória no ataque às instituições, órgãos, institutos e a todo o aparato público que construímos nos últimos 35 anos, desde o fim da ditadura militar, não pode encontrar senões ou poréns no combate ativo que se faz necessário.

É necessário trazer para o nosso lado eleitores arrependidos de Bolsonaro. Estamos em guerra e em períodos conflagrados as alianças são feitas mirando a derrota total do inimigo comum. Ou seja, convergindo pelo meio, pelo centro.

Foi isso que permitiu a Churchill e a Roosevelt, escoltados por De Gaulle, sentarem com Stálin a fim de traçar o plano de aniquilamento de Hitler e do nazismo. Derrotado o Eixo, mortos Adolf Hitler e Benito Mussolini, voltaram às desavenças históricas. Guardadas as proporções, mas tendo por inimigo alguém com visão de mundo que tangencia o nazi-fascismo, é essa aliança estratégica que precisamos perseguir com os arrependidos de gradações diversas.

Com didatismo, entretanto, não se deve conceder aos órfãos do bolsonarismo permissão para que se mantenham do lado escuro da força. É necessário impedir que sigam se autodesculpando pelo erro cometido. Eles têm de assimilar a dimensão de todo o mal que ajudaram a semear, de todo o ódio que ajudaram a plantar em nossa sociedade, sob pena de repetirem o erro caso não percebam como ajudaram a nos trazer à antessala do inferno.

Também não é mais plausível escutar a desculpa de ser difícil para o país tirar mais um presidente legítimo, posto que eleito diretamente. O argumento foi esgrimido por nós, com correção, em 2016 e vinha sucedido da advertência: não se mexe impunemente no edifício legal, na arquitetura institucional do país. “Vai dar errado”, cansamos de dizer. Deu. Essa fala era nossa, não foi ouvida. Contudo, pode e deve ser lembrada.

Como constatavam o Conselheiro Acácio e Marco Maciel, as consequências vêm depois. Vieram. É dado o momento de endurecer na reação diuturna sem perder a ternura de apontar o caminho de saída desse campo de concentração controlado pelos débeis celerados do bolsonarismo. É hora de sentar praça nos espaços vazios e nas lacunas da sociedade civil, estabelecer a meta, descobrir os alvos, rascunhar o projeto de país que se quer e trilhar o caminho de lutas refinando o espírito gregário. Só se vence uma guerra fazendo aliança e ocupando os espaços que surgem com aliados – e não com submissos.

Nas duas últimas semanas Bolsonaro disse ao menos duas barbaridades por dia. Essa proatividade patética guarda um método – manter a resistência ocupada e atarantada, erguendo redes de proteção em diversas direções – mas também denota certo desespero. Ele sabe que dia a dia perde credibilidade, dilapida a esperança que qualquer eleito projeta e reduz o valor de sua caneta institucional. Tudo isso se dá porque é um despreparado absoluto para exercer o cargo ao qual foi catapultado no florescer do ódio classista e recalcado semeado a partir da derrota de Aécio Neves em 2014 e muito bem arado por Eduardo Cunha em 2015 e 2016. A verborragia institucionalmente escatológica de Bolsonaro destina-se, além de perturbar a ração, a endurecer o núcleo de seus aderentes – hoje calculado em algo em torno de 20% dos eleitores brasileiros. Como a aprovação dele ainda se situa nas franjas dos 30%, há margem para o bem conquistar novas mentes do obscurantismo bolsonarista e abreviar a agonia de toda uma Nação.

É jornalista

Fonte: https://www.brasil247.com