E a pergunta roda, e a cabeça agita…
(Gonzaguinha – O que é o que é)
Enquanto juiz federal da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, onde ficou conhecido como o “Senhor Todo Poderoso da Lava Jato” – a ponto de se sentir no direito de gerir os passos da força tarefa do Ministério Público Federal -, Sérgio Moro tinha pressa para sentenciar e mandar prender aqueles que ele considerava malfeitores. Mas bastou alcançar a notoriedade como “caçador de corruptos” para abandonar a toga e vestir o pomposo terno de ministro da Justiça e da Segurança, estágio probatório para conquistar a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), acertada previamente com o presidente Jair Bolsonaro.
Era o que bastava para mostrar que por baixo da carapaça do rigoroso juiz se escondia alguém benevolente com seus interesses pessoais. Pois graças a essa maleabilidade comportamental estamos observando a desconstituição do “mito” por outro “mito”. Ou não é exatamente isso que a parcimônia de Moro para com as situações de constrangimento que lhe são impostas pelo presidente da República está mostrando?
Pois essa subjugação voluntária faz com que ele tenha que provar rotineiramente sua lealdade ao seu opressor. O descaso para com o paradeiro de Fabrício Queiroz é uma dessas demonstrações. Como explicar que com a fama alcançada, tendo a Polícia Federal como órgão afeto ao seu ministério, passados oito meses desde que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou Queiroz como suspeito de ter realizado movimentações financeiras atípicas, ele ainda não tenha sido localizado?
Impossível não crer de se trata de um desinteresse no mínimo suspeito. Por que Queiroz na época da manifestação do Coaf desempenhava a função de assessor do então deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro? Por que Queiroz mantinha e mantém laços de amizade com o patriarca do clã Bolsonaro? Por que Queiroz, ao que tudo indica, atuou como laranja das movimentações financeiras do 01? São dúvidas demais para respostas de menos.
Justiça seja feita, o protecionismo ao filho do presidente não se restringe apenas a Sérgio Moro. Também o presidente do STF, Dias Toffoli, em decisão surpreendente, decretou a suspensão da investigação contra o hoje senador Flávio Bolsonaro. A providencial manifestação do presidente da Suprema Corte passa a impedir o andamento de inquéritos baseados em compartilhamentos e dados bancários sem autorização judicial. E isso vale para qualquer pessoa investigada na mesma situação do filho do presidente, inclusive Fabrício Queiroz.
Mesmo assim, passado um mês da decisão de Toffoli, Fabricio Queiroz ainda não teve coragem de aparecer. Mas Flávio Bolsonaro, fazendo uso do DNA oportunista da família, vem usando a tribuna e os microfones do plenário do Senado para bradar, sem ruborescer, o seu apoio ao combate à corrupção. Bem que ele poderia fazer uso dos microfones para mandar uma mensagem para o amigo desaparecido. Quem sabe cantando o refrão da canção do genial Vinícius de Moraes, “E por falar em saudade, onde anda você, onde andam seus olhos, que a gente não vê…”
Jornalista
Fonte: https://www.sul21.com.br