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‘Desunião Brasil’: Briga por dinheiro transforma partido em caso de polícia

‘Desunião Brasil’: Briga por dinheiro transforma partido em caso de polícia

A disputa pelo comando do União Brasil virou caso de polícia. No fim de fevereiro, o deputado Luciano Bivar foi apeado da presidência da sigla. Perdeu a cadeira para Antônio Rueda, seu antigo aliado e parceiro de negócios.

Ao perceber que seria destronado, Bivar tentou um golpe de última hora. Numa canetada, cancelou a convenção partidária. Até aí, seguiu o manual da baixa política, pródiga em rasteiras, mumunhas e viradas de mesa.

O truque não funcionou, e o confronto ganhou novos ingredientes. As manobras deram lugar a um enredo mais quente, com relato de ameaça de morte, acusação de roubo e até um incêndio suspeito.

O fogo lambeu duas casas de veraneio: a de Rueda e a da irmã dele, atual tesoureira do União. Os imóveis ficam numa praia frequentada pela elite pernambucana. Curiosamente, Bivar é dono de outro lote no mesmo condomínio.

Ontem o futuro presidente do União falou em “atentado”. O rival se disse vítima de “ilações” e “factoides”. De quebra, acusou a mulher do desafeto de depenar um cofre em seu apartamento. “Eu cedi o segredo e ela roubou todo o dinheiro”, garantiu.

Verdadeira ou falsa, a história resume as razões do conflito. Mais que um duelo por poder, trava-se uma batalha cruenta por dinheiro. Só neste ano, o União receberá R$ 517 milhões do fundo eleitoral. Em 2022, a quantia quase bateu os R$ 800 milhões.

A legenda foi criada há apenas dois anos, fruto da fusão de DEM e PSL. Com programa amorfo, atraiu políticos de poucas ideias e muitos interesses. Sob o mesmo guarda-chuva, é capaz de reunir três ministros de Lula e alguns dos maiores inimigos do petista, como o ex-juiz Sergio Moro.

O Frankenstein partidário ainda soma quatro governadores, sete senadores e 59 deputados. Uma tropa suficiente para negociar vantagens com qualquer governo — de esquerda, de direita ou muito pelo contrário.

Apesar da cizânia, a sigla tem planos ambiciosos. Quer eleger os presidentes da Câmara e do Senado em 2025. Convém esconder a chave do cofre e tirar as crianças da sala. Além de deixar os bombeiros de sobreaviso.

Bernardo Mello Franco, jornalista

Fonte: https://oglobo.globo.com/