O que acontece atualmente com o Rio de Janeiro é uma tragédia. Traficantes, milícias, polícia civil e polícia militar, todos envolvidos em uma guerra quase sem fim.
A principal vítima disso tudo é o povo trabalhador. O homem comum que sai para trabalhar atrás do pão de cada dia e não sabe sequer se volta para casa.
Triste, muito triste, sobretudo para quem nasceu e foi criado na cidade como eu. Uma cidade que André Filho consagrou há quase cem anos, na sua célebre marchinha carnavalesca, como maravilhosa, e que sempre se apresentou como um cartão postal do Brasil.
Formou-se, no Rio de Janeiro e em outras áreas do Brasil, uma espécie de burguesia do crime, movimentando capitais vultosos, e arrastando uma parcela considerável da nossa juventude. Sai de cena a mais-valia e entra em campo o código penal. A impressão que dá é que sobrou para uma parte da nossa mocidade vender drogas para outra.
Como sabemos, trata-se de uma atividade ligada a uma violência extrema, praticamente sem limites. E a violência é uma das portas de entrada do fascismo. Os setores mais lúcidos do Campo Democrático italiano, quando se debruçaram sobre o surgimento e a própria extensão do fenômeno fascista no país, no início dos anos 20 do século passado, chamaram a atenção para o fato de que a ordem democrática não soube dar respostas ao caos que se formava na Itália. Segundo alguns observadores e militantes políticos, com Antonio Gramsci e Palmiro Togliatti à frente, os principais dirigentes do Partido Comunista Italiano àquela quadra, o povo preferia uma ordem injusta ao caos, se a ordem democrática não se apresentasse sobre a cena política e social. E foi o que aconteceu.
E é o que pode ocorrer agora no Brasil. Um sinal disso já se encontra como que estampado nas pesquisas: os moradores das favelas cariocas apoiam massivamente a ação do governo. É um alerta e é grave. O fato de o número de favelas ter duplicado em todo o país em poucos anos revela uma ligação direta entre violência e péssimas condições de vida. Afinal, passamos de seis mil para doze mil favelas. Trata-se de um desmoronamento social. De uma violência sem tamanho contra a população brasileira como um todo.
A segurança pública é a ponta desse iceberg.
Ivan Alves Filho, historiador
