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De Washington às bananeiras

Nós, jornalistas que há décadas acompanhamos presidentes da República em incursões internacionais, somos testemunhas:

o Brasil levou um longo tempo para superar a imagem de republiqueta de bananas e ser levado a sério pela comunidade internacional. Para isso, foram necessários anos de posições independentes e altivas, alianças fora da caixinha dos Estados Unidos e muito soft power. Tudo isso está desmoronando em seis meses, provando mais uma vez aquela máxima segundo a qual leva-se anos para construir uma reputação – que pode ser perdida num piscar de olhos. Esse pode não ser, porém, o pior problema.

A consequência mais nefasta da decisão do presidente Jair Bolsonaro de nomear seu filho Eduardo como embaixador do Brasil nos Estados Unidos deve ser interna. Do ponto de vista político, ela coloca Bolsonaro numa zona de risco, entre a possibilidade de o Senado, por votação secreta, rejeitar o nome de seu filho, e a do Supremo Tribunal Federal considerar que fere as regras que proíbem o nepotismo na administração pública.

Em qualquer dessas hipóteses, o presidente da República terá sofrido uma derrota inédita e vexaminosa, sobretudo por ser desnecessária. Será que Jair Bolsonaro vê apenas em seu filho os predicados que considera necessários ao embaixador brasileiro em Washington? Antes de depor contra a imagem do país, o movimento de nomear o filho 03 para o mais alto posto da diplomacia brasileira no exterior depõe contra a capacidade de discernimento do primeiro mandatário do país.

A nomeação de Eduardo Bolsonaro pode provocar uma inconveniente e inoportuna trombada entre os poderes da República num momento em que se vota reformas e, em vez de dispersar energias, o governo deveria estar é trabalhando em medidas para turbinar a economia e gerar empregos. Só que não. Enquanto a Câmara dos Deputados votava os destaques ao texto da principal reforma de seu governo, Bolsonaro anunciava mais uma decisão bizarra para a platéia.

Há quem diga, no Congresso, que a intenção talvez tenha sido justamente essa – chamar a atenção do distinto público para si numa hora em que o protagonismo está com o Congresso. Pode ser. O certo é que, no próprio entorno do presidente, alguns esperam para que a decisão acabe sendo revista.

Jornalista

Fonte: https://osdivergentes.com.br