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Cuidado com o homem do saco

Cuidado com o homem do saco

Estava eu na fila da lotérica aguardando para conferir se tinha cravado alguma coisa nos joguinhos que costumo fazer. Na minha frente havia uma avó com duas crianças pequenas, arrisco dizer que o menino tinha uns quatro anos e a menina por volta dos dois. A mulher devia estar pagando contas e as crianças, a princípio quietas, começaram a demonstrar cansaço por estarem ali. O mais velho saiu de perto da avó, a menininha, claro, seguiu o irmão. Agoniada com o fato de os netos não estarem mais sob sua vigilância, a mulher saiu do guichê e gritou para eles: “vem pra cá senão o homem do saco vai pegar vocês”. Um pouco sem graça comigo, talvez achando que eu iria julgá-la, justificou: “às vezes a gente tem que fazer isso”.

Se pudesse gostaria de tranquilizá-la dizendo: “amiga, estamos juntas, volta e meia, quando saio sozinha com meus netos gêmeos de quase três anos, apelo para o lobo mau atrás das árvores para ver se eles se comportam melhor”.

Confesso aqui, apenas para vocês, já apelei para bruxas também. Tem hora que não há Piaget que dê jeito. Por mais que as teorias digam que não devemos colocar medo nas crianças, às vezes a realidade se impõe e acabamos buscando o caminho mais fácil e repetindo o que cansaram de fazer com a gente.

Quando vi a artimanha daquela avó, e lembrei das minhas próprias artimanhas para assustar os netos e mantê-los sob controle, pensei na maneira como costumamos assustar os adultos e fazer com que andem nos eixos.

Por isso existem as leis e os códigos de conduta, para que as pessoas tenham medo de serem punidas e respeitem o que foi estabelecido como correto pela sociedade.

As crianças comumente querem ousar, aprontar alguma coisa, ficar longe da autoridade do adulto que muitas vezes as reprime, mas o medo do homem do saco, do lobo mau ou da bruxa faz com que se enquadrem e não avancem com atitudes por vezes perigosas e irresponsáveis.

Manifestantes invadiram Congresso, STF e Palácio do Planalto – Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

O medo, portanto, pode ser um bom aliado.

Assim também acontece com os adultos. Como seres racionais que somos, o medo da punição faz com que um sujeito normal pense duas vezes antes de agir.

Daí também a importância da punição, sempre dentro das regras estabelecidas e desde que haja possibilidade de defesa.

O ministro Alexandre de Moraes – Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

Pensando na galera que apoiava os atos antidemocráticos que culminaram nos episódios lamentáveis de 8 de janeiro, quem lhe causa maior medo é o ministro Alexandre de Moraes, que tem atrapalhado os planos de não seguirem regras constitucionais.

Portanto, da próxima vez que quiserem fazer arruaça, baderna e depredação em nome de um pretenso golpe de estado, convém gritar em alto e bom som: “cuidado que o Xandão está por perto e pode pegar vocês”.

E num é que pegou?!


Claudia Abreu, jornalista

Fonte: https://osdivergentes.com.br