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Crise humanitária ou quatro batalhas? Tanto faz

Que bom que o Google é claro. Que tem explicação sem “goma”! Ficou fácil entender o que estamos passando. “Marrolha”!

“Crise humanitária é uma situação de emergência, em que a vida de um grande número de pessoas se encontra ameaçada e na qual recursos extraordinários de ajuda humanitária são necessários para evitar uma catástrofe ou pelo menos limitar as suas consequências.”

Talvez não fosse necessário escrever mais nada. Pois vivemos exatamente isto: uma gravíssima CRISE HUMANITÁRIA, mas também podemos chamar de GUERRA DE QUATRO BATALHAS.

O governador do Acre é certeiro quando afirma que vivemos uma guerra. Por que ele diz isso?

Porque temos vários inimigos invisíveis, liberdade cerceada, pessoas acamadas e em estado grave lutando pela vida, casas destruídas, a foto do filho, do casamento, a geladeira novinha, comprada em prestações, boiando nas águas do rio. O sofá castigado se foi, mas tinha um grande valor. Ali a família se sentava. Ria, conversava, assistia à novela e seguia a vida, no melhor lugar do mundo: dentro de casa.

Os filhos foram carregados para longe de seus cantos. Os pais sentindo a desesperança… Que luta é essa, meu Deus? Como vamos vencer?

Sim! É uma guerra. E são quatro batalhas distintas.

A Covid se fortaleceu, o vírus ficou mais forte, mais perigoso. A isso chamamos mutação viral ou variante.

Antes víamos os mais fracos, de mais idade, sofrendo com o tenebroso inimigo que chegou e não quer sair de nossas terras. Agora infecta os fortes, jovens, sem comorbidades, levando embora gente que simplesmente não resistiu. Dói! Dói muito.

Invadiu o mundo, o Brasil, o Acre, as casas, os corpos. Como é que tudo isso começou mesmo? Acho que já esqueci. Vou pesquisar no pai dos burros. Não é justo!

Mas começamos a primeira grande batalha.

A segunda batalha se apresentou nos ares. Na figura inexpressiva de um carapanã, como chamamos mosquito no Acre. Mas ele, sem ser convidado, obviamente, se instala em locais propícios. E a gente até já sabia como não deixar ele fazer morada. Mas onde estava nosso olhar? Na outra batalha?

Assim, sem perceber o deixamos entrar em nossos lares. Tolinhos! Mosquito não mata! Não? Mata e de uma forma violenta. Bem parecida com a da primeira batalha.

A dengue hemorrágica altera os batimentos cardíacos, traz vômitos persistentes e sangramentos nos olhos, gengiva, nariz… coisa terrível!

Dormimos bem e acordamos acometidos por essa tal de dengue. Se bem que já fomos apresentados a ela faz muito tempo. Não é novidade.

Que lástima. Passou batido!

Mal temos tempo de temer a segunda batalha, lá vêm as águas incontroláveis, chuvas intermináveis.

Os bueiros não suportam, as ruas se enchem de água suja. Os rios vão se aproximando das casas, do centro de tudo, para dentro da vida.

Não só molham, destroem, despedaçam, separam, angustiam, adoecem. Águas do Rio Acre, Purus, Iaco, Tarauacá, Envira. Águas de fevereiro. Águas do ano dois mil e vinte e um.

As famílias choram! As famílias ajudam outras famílias! As famílias recebem atenção do país. “Vejam, notaram nossa guerra, irão mandar reforços!”

Há esperança para os feridos.

Mas e os irmãos imigrantes? Esses que viajando povoaram o mundo com multicores, multilínguas, multicostumes, em cada lugar. O mundo que conhecemos. O global de que tanto falamos. Foram eles. Nós somos eles em outros tempos.

Esses irmãos fazem agora o caminho inverso. Pelo Acre adentraram o restante do Brasil e mundo afora. Agora, lá estão eles: em cima da ponte. Que confuso!

Meu filho de seis anos não entende por que eles não podem, simplesmente, ir…

“Foi a guerra, filho! Ela deixa marcas, traz medo, nos faz mais bonzinhos ou nem tão bonzinhos assim. Pelo bem de… Filho, mamãe confessa que essa parte ela não sabe explicar tão bem.”

No fim: a guerra vai acabar. Venceremos. Nunca fugimos à luta.

Mas cada batalha tem sua força, traz seus temores, suas lágrimas, dissabores. Nelas também encontramos amigos, valentes soldados, anônimos preocupados e humanidade.

Aquela máxima de que crise gera oportunidade não cabe em nossa guerra. Não para nós que estamos no front.

Mas trará bons soldados de longe com a oportunidade (essa que a crise pode promover) para nos encontrar nos escombros, e assim, nos ajudar a recomeçar.

Que o mundo se recrute. E venha vencer com o Acre. Mas, por enquanto, e para rimar: o Acre que lute!


Mirla Miranda é porta-voz  do governo do Estado do Acre

Fonte: https://agencia.ac.gov.br