Bastidores dos atritos de Jair Bolsonaro com os superministros Sérgio Moro e Paulo Guedes para proteger
o filho Flávio, o 01, de investigações sobre as rachadinhas na Assembléia do Rio de Janeiro
Esses primeiros oito meses do governo Bolsonaro são avaliados, até por seus integrantes, por óticas bem diferentes. Para quem olha de fora, com a aprovação pela Câmara de uma efetiva reforma da Previdência — pilar do programa econômico do “guru” Paulo Guedes– e a melhora nos índices de segurança pública, tarefa de Sérgio Moro, Bolsonaro deveria estar satisfeito com o desempenho das duas principais estrelas de seu governo.
Seria o esperável se a régua fosse a qualidade de gestão. Parece que não é. O principal critério de Bolsonaro dentro do Planalto, e em toda a Esplanada dos Ministérios, é o de melhor atender a seu clã. As trombadas de seu filho Carlos Bolsonaro, o 002, mudaram a configuração palaciana. O que mais aflige o presidente, no entanto, é livrar o senador Flávio Bolsonaro, o 001, do caso Queiroz que também respinga na primeira-dama Michele Bolsonaro e em seus próprios mandatos parlamentares. Há uma confusão de cheques e contas aí a ser esclarecida.
Uma canetada do ministro Dias Toffoli, a pedido de Flávio Bolsonaro, aliviou o clima no clã Bolsonaro. Toffoli suspendeu o inquérito sobre a “rachadinha” na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, e todas as investigações com base em relatórios do Coaf, Receita Federal e Banco Central sem prévia autorização judicial. Afora atender Flávio Bolsonaro, gerou uma confusão em investigações sobre lavagem de dinheiro ainda não dimensionada.
Era tudo que Jair Bolsonaro queria. Quando ele soube, que, no dia 29 de julho, Sérgio Moro se reuniu com Dias Toffoli para expor argumentos em defesa do Coaf, o presidente se sentiu traído por seu ministro da Justiça. Me contam fontes confiáveis que Bolsonaro chamou Moro às falas. “Nunca lhe pedi nada para ajudar meu filho; nem o senhor se ofereceu para ajudá-lo. Tudo bem. Mas não o atrapalhe, ok, ministro?”.
O clima teria sido ainda pior em uma segunda conversa entre Bolsonaro e Moro. O presidente ficou uma arara com a declaração do presidente do Coaf, Roberto Leonel, questionando a decisão de Toffoli. Leonel é auditor da Receita Federal, com destacado papel na Operação Lava Jato, e é peça chave na estratégia de Moro de montar um plano nacional de combate à corrupção.
Segundo minhas fontes, nessa segunda conversa, Bolsonaro teria se exaltado a ponto de gritar com Moro. Não me disseram como reagiu seu ministro da Justiça. O fato é que Bolsonaro tem aproveitado todos os quebra-queixos com repórteres para dar estocadas em Moro. A fritura dos Bolsonaros só não é maior porque Sérgio Moro continua com popularidade alta.
Nesse quiproquó, Bolsonaro teria exigido de Paulo Guedes a cabeça de Roberto Leonel no Coaf, órgão que voltou a ser subordinado ao Ministério da Economia. Na segunda-feira (5), Guedes e Moro tiveram uma conversa inconclusiva sobre isso. Foi o suficiente para o óleo quente palaciano respingar em Guedes. Dizem ali que ele está enrolando o presidente, numa parceria com Moro que desagrada o Planalto. Ninguém aposta em uma queda de Moro ou Guedes a curto prazo. A ideia é desidratar Moro gradualmente. É um processo que agrada aos caciques políticos e a parte do STF aliada a Toffoli e Gilmar Mendes.
É também um tiro no escuro de Bolsonaro. Pode acertar o próprio pé.
Jornalista
Fonte: https://osdivergentes.com.br