Agora é assim: quem contrariar os interesses e ousar fiscalizar a família imperial vai levar chumbo, está com os dias contados.
Pode ser militar ou civil, general ou fiscal, apenas cumprir a lei, não importa: o capitão não perdoa.
Governando o país como se fosse o síndico de um condomínio privado na Barra da Tijuca, ou comandante de um batalhão, o presidente em exercício não aceita ser confrontado e atropela quem se coloca à sua frente.
Com o Congresso e o Supremo comendo na sua mão, o aprendiz de ditador, sem limite e sem controle, vai enfeixando cada vez mais poderes e dá uma banana para o mundo.
Como ainda não conseguiu implantar a censura prévia, liga para os patrões amigos e tira jornalistas do ar, apenas com um peteleco.
A última vítima foi meu amigo Juca Kfouri, um dos jornalistas mais respeitados do país, que foi sumariamente ejetado da ESPN.
Logo nos primeiros dias após a posse, mostrando a que veio, o ex-capitão mandou demitir um fiscal do Ibama que o multou, quando ainda era deputado, por pescar em área de preservação ambiental.
Ninguém falou nada.
Inconformado com as multas que ele e a família receberam na estrada que leva à sua casa de veraneio, no Rio, mudou as regras de transito e agora mandou retirar os radares comunistas.
Ninguém falou nada.
Nas últimas semanas, sua ira voltou-se contra as chefias da Receita Federal e do Coaf, que encontraram “movimentações atípicas” nas contas de Flávio, o filho 01.
Primeiro, colocou o Coaf sob a guarda confiável de Sergio Moro, na Justiça.
E não se falou mais no Queiroz, o motorista da família que sabe “fazer dinheiro”.
Derrotado na Câmara, que mandou o órgão de controle de atividades financeiras de volta para o ministério da Economia, deu um cavalo de pau e agora quer abrigá-lo no Banco Central para blindar a família e os amigos.
Ninguém falou nada.
Revoltado com a Receita Federal, denunciou que sua família está sofrendo uma “devassa”, depois que o órgão “tentou derrubá-lo na campanha eleitoral do ano passado”, segundo reportagem publicada no Globo, nesta quinta-feira.
Sem mandar recado, na semana passada, interpelou pessoalmente o chefe da Receita, Marcos Cintra, que está com o cargo a prêmio.
Ninguém falou nada.
Nas horas vagas, já afrontou a Argentina, a Alemanha, a França e a Noruega, certamente todos países comunistas, em seus delírios de perseguição.
Ninguém falou nada.
Na quarta-feira, no Piauí, ao se referir aos governadores do Nordeste, voltou a falar um fezes, sua mais recente obsessão, e prometeu “varrer a turma de vermelho” nas próximas eleições.
“Vamos acabar com o cocô no Brasil. O cocô é essa raça de corrupto e comunista”.
E ninguém falou nada.
Com o caminho livre, sem oposição que lhe faça frente, caça inimigos por toda parte para mostrar quem manda no país.
Misteriosamente, os generais que o cercam de repente ficaram mudos, respeitando um obsequioso silêncio, diante da ofensiva alucinada do ex-capitão em sua cruzada para se vingar de tudo e de todos, gargalhando com as próprias bobagens que diz.
Antes da quarta-feira acabar, demitiu o quarto secretário de Imprensa em sete meses de governo, e resolveu, simplesmente, fechar a repartição.
Pelo menos, não nomearam mais um general para o lugar.
Espera-se que não faça o mesmo com o Ministério da Economia, quando a recessão se aprofundar e o povo perder a paciência solicitada pelo frentista do Posto Ipiranga.
Vida que segue.
É jornalista