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Ciro Gomes mostra que será a grande pedra no caminho de Lula

Impressionante a capacidade do PT de criar narrativas casuísticas. Já prevendo que Lula será o alvo preferencial de adversários e da imprensa não alinhada, petistas começam a defender a redução do número de debates na TV nas eleições deste ano, sob o argumento de que tais compromissos acabam restringindo o tempo de campanha nas ruas. Pura balela.

Lula está em campanha para presidência da República desde 1989. Muitos leitores sequer eram nascidos e ele já circulava pelas ruas do país ao som do belo jingle composto por Hilton Acioli, Lula lá.

A tese de redução dos debates, publicada esta semana pela Folha de São Paulo, talvez seja apenas uma forma de preparar a opinião pública para eventuais ausências do ex-presidente nos debates e entrevistas aos veículos de mídia tradicionais ou quem sabe até para uma eventual mudança de nomes na chapa. Assim como Bolsonaro, Lula não costuma dar entrevista a jornalistas ou veículos de comunicação não alinhados.

Líder nas pesquisas, o ex-presidente sabe que não terá a companhia de Bolsonaro para dividir as pancadas durante os debates. Portanto, se tornará alvo preferencial, até pelos muitos telhados de vidro que possui.

Os petistas  mais conscientes conhecem as fragilidades do partido e as perguntas para as quais Lula não têm respostas. Sabem que todos esses pontos fracos serão amplamente explorados nos próximos meses. E as pedradas mais pesadas nem partirão da direita, mas da própria esquerda.

Ciro Gomes já começou a pancadaria e deu mostras de que não dará vida mansa ao ex-aliado. No que depender dele, Lula terá muitas explicações a dar aos eleitores.

Os primeiros ataques começaram em outubro do ano passado, quando o candidato do PDT acusou Lula de ter conspirado pelo impeachment de Dilma Rousseff. A resposta de Lula, dada por meio de entrevista a uma rádio do interior do Mato Grosso do Sul, tentou desqualificar Ciro, sem entrar no mérito da questão. Tática antiga, por sinal.

Durante coletiva de lançamento da sua candidatura pelo PDT na última sexta-feira, foi disparado mais um ataque em direção ao ex-presidente. Um míssil.  Em resposta à TV Brasil 247, qualificada pelo PT como “imprensa independente”, – embora já tenha anunciado apoio formal à candidatura Lula -, Ciro Gomes deu uma aula de história relatando todas as incoerências do PT ao longo das últimas quatro décadas.

Em um vídeo de pouco mais de 4 minutos que circula pela internet, Ciro Gomes, sem alterar a voz, lembrou o histórico de discordâncias do PT em relação aos avanços do país. Começou pelo não apoio de Lula e seu partido à candidatura de Tancredo Neves contra Paulo Maluf no colégio eleitoral de 1985, que permitiu a volta da democracia.

Depois o pedetista discorreu sobre a eleição de 89, quando as pesquisas indicavam que o único candidato que perderia para Fernando Collor em um eventual segundo turno seria Lula. “Mas o Lula se impôs”, disse. O resultado foi a vitória do “caçador de marajás” e o consequente desastre para o país.

Ciro Gomes lembrou que ao longo de todos esses anos esteve ao lado do petista, mas que Lula sempre se preocupou apenas com seu projeto de poder, e o responsabilizou pela eleição de Bolsonaro. “Para ele [Lula] o Brasil é um objeto e se ele não tiver na eleição nada presta”, disparou.

Como exemplo Ciro Gomes destacou que em 2018 todas as pesquisas apontavam que ganharia de Bolsonaro no segundo turno. “E o que o Lula fez? Mentiu que era candidato, travou a disputa e lançou um candidato, não um petista vitorioso, como o Camilo [Santana] ou o Jaques Wagner, não. Lançou um cara que tinha sido derrotado um aninho antes, no primeiro turno, tirando 16% dos votos, perdendo pra nulo e branco, na prefeitura de São Paulo na reeleição”.

Talvez o colega Dácio Malta tenha razão ao sugerir, em texto publicado aqui, que Lula pode não ser candidato. Com quase 80 anos, se perceber que a reeleição não será tão fácil e que e se tornar saco de pancadas, o petista possa abrir mão da disputa  usando apenas seu prestígio para impulsionar outros nomes. Afinal, pelo andar da carruagem, seu principal adversário pode não ser Bolsonaro, como sonhou, e sim um ex-aliado que conhece todos os seus segredos.

A conferir.


Fonte: https://osdivergentes.com.br/